Qual o futuro da água no Brasil? Será que teremos escassez?

Vem entender como o Brasil está lidando com isso!

O Brasil é um país continental que possui uma localização geográfica privilegiada, tendo incidência solar durante todo o ano e clima tropical, o que favorece o cultivo de alimentos e o desenvolvimento da agricultura.

Outro fator de grande relevância no Brasil está relacionado à grande reserva de água doce que nosso território possui. Segundo informações da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico), o país possui a maior reserva de água doce superficial do planeta – correspondendo a 12% do total de água doce mundial, sendo recortado por diversas bacias hidrográficas. 

Mas apesar disso, a água não é distribuída de maneira igual por todo o território brasileiro, 68% da água superficial localiza-se na região Norte; 16% na região Centro-Oeste; 7% na região Sul; 6% na região Sudeste; e 3% na região Nordeste. A região mais densamente populosa, com 41,80% da população brasileira, é a região Sudeste [1], justamente a que possui uma das menores disponibilidades de água.

Diante disso, para entender se o país continuará a ter disponível sua reserva de recursos hídricos [2], é importante analisar a atual conjuntura (econômica, ambiental, climática e social). Diversos fatores impactam na preservação de nossas águas, merecendo destaque: o saneamento básico; os setores industrial, agrícola, e de energia; e as mudanças climáticas [3].

Mas, antes, dois importantes lembretes relacionados ao acesso à água. O primeiro é que o acesso à água potável é reconhecido pela ONU (Organização das Nações Unidas) como um direito humano. E o segundo é que no Brasil, de acordo com a Lei das Águas (Lei nº 9.433/1997), a água é considerada um bem de domínio público e um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. Ainda de acordo com essa lei, em situações de escassez, o uso prioritário da água é para o consumo humano e para a dessedentação de animais.

Saneamento Básico: Uma Necessidade Urgente

Apesar de estarmos em 2024, a universalização do saneamento básico no Brasil ainda está longe de acontecer. E o que isso significa em termos práticos? Significa que o país ainda não oferece acesso à água potável a toda sua população, situação que fica pior em localidades distantes da centralidade das metrópoles. E nas regiões de periferia (localidades que ficam às margens, no entorno dessas grandes cidades) o acesso à água potável também acontece de forma precarizada.

Além do acesso à água potável, os serviços de saneamento básico incluem a coleta e tratamento de esgoto; a drenagem de águas pluviais (águas vindas das chuvas); e a coleta e destinação correta dos resíduos urbanos (comumente chamados de lixo). E por quê? Porque no Brasil há o entendimento, na área das políticas públicas, de que todos esses serviços de saneamento impactam a os corpos hídricos do nosso país, principalmente se esses serviços são deficitários. Por isso, a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) está diretamente ligada a gestão das águas no país.

Quando não há o serviço de coleta de esgoto, ou quando há a coleta, mas sem o devido tratamento, esse esgoto (domiciliar, industrial, comercial e/ou hospitalar) acaba fluindo e sendo despejado sem qualquer tratamento em rios, lagos, lagoas, lençóis freáticos. E quando a coleta de resíduos (lixo) não é realizada ou quando esse serviço ocorre de forma precarizada, a destinação incorreta desses resíduos pode contaminar o solo e os corpos hídricos.

Por isso é necessário que ocorra o quanto antes a universalização do saneamento básico em nosso país. Caso contrário nossas águas estarão comprometidas devido a poluição, resultando em:

  • Altos custos para o sistema de saúde para tratamento de enfermidades e redução da produtividade da força de trabalho devido a doenças relacionadas à água e;
  • Comprometimento da disponibilidade de água para usos múltiplos, incluindo o abastecimento público e a irrigação agrícola.

Setor Industrial e Agrícola: Pressões sobre os Recursos Hídricos

Os setores industrial e agrícola desempenham um importante e fundamental papel na economia brasileira. No entanto, são também um dos principais consumidores de água em nosso país, o que nos acende um alerta, já que, são setores que precisam se modernizar no quesito de uso eficiente de recursos hídricos.

O setor agrícola, responsável por mais de 70% do consumo total de água no país, enfrenta desafios significativos devido à irrigação ineficiente, ao uso excessivo de agroquímicos e ao desmatamento. Essas práticas não apenas comprometem a sustentabilidade dos recursos hídricos, mas também afetam a produtividade e a competitividade do setor agrícola a longo prazo. É preciso uma gestão responsável e sustentável de recursos, sem desperdício e alinhada à realidade da emergência climática que o mundo está atravessando.

No setor industrial, a gestão inadequada da água e o lançamento de efluentes, muitas vezes repletos de produtos químicos, sem o tratamento adequado representam uma ameaça à qualidade e disponibilidade dos recursos hídricos. Isso acaba gerando custos adicionais para as empresas, em termos de multas ambientais e restrições operacionais.

Setor Energético: Vulnerabilidade à Escassez Hídrica

A matriz energética no Brasil é composta fortemente por energia renovável, possuindo grande destaque as usinas hidrelétricas. No entanto, essa fonte energética é bastante vulnerável às variações climáticas e aos impactos das mudanças climáticas.

Oscilações no regime de chuvas afetam a disponibilidade de água para geração de energia, levando a períodos de escassez hídrica e aumentando a volatilidade nos preços de energia. Fato já observado em períodos de estiagens e secas, onde as usinas termelétricas precisaram ser acionadas para atender a demanda de energia; havendo, consequentemente, além do ônus ambiental, também o ônus financeiro com aumento das tarifas de energia elétrica.

Diante dessa vulnerabilidade, a diversificação da matriz energética torna-se uma necessidade urgente, com investimentos em fontes renováveis alternativas, como solar, eólica e biomassa, reduzindo a pressão sobre os recursos hídricos e aumentando a resiliência do sistema energético como um todo.

Mudanças Climáticas: Agravando a Crise Hídrica

As mudanças climáticas já são, infelizmente, uma realidade em todo o mundo. E mais, estamos atravessando um período que os cientistas denominam como emergência climática, já que os efeitos das mudanças climáticas estão evoluindo de forma mais acelerada que se esperava.

Com isso, temos vivido a intensificação dos extremos climáticos, ou seja, o aumento da frequência e da intensidade de eventos como secas e enchentes. Secas prolongadas reduzem a disponibilidade de água, afetando a produção agrícola, a geração de energia hidrelétrica e o abastecimento público. Enquanto as enchentes causam danos materiais e humanos significativos, inclusive com a perda de vidas (o que poderia ser evitado se nossas cidades incluíssem a emergência climática em seus planejamentos urbanos), além de prejudicar a infraestrutura e a atividade econômica.

A adaptação às mudanças climáticas e a mitigação de seus efeitos exigem políticas públicas integradas, considerando principalmente a realidade das cidades, que promovam a gestão sustentável dos recursos hídricos, a conservação de ecossistemas aquáticos e a redução das emissões de gases de efeito estufa.

É preciso então que seja pensada uma gestão sustentável dos recursos hídricos no país com a inclusão dos fatores mencionados, com ações coordenadas e políticas públicas eficazes, assegurando assim a disponibilidade de água de qualidade para as gerações presentes e futuras. Ou caminharemos, a passos largos, para uma crise hídrica sem precedentes na história do país.

[1] IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Censo Demográfico 2022.

[2] A água é um recurso finito, que apesar de ter a capacidade de se regenerar não está conseguindo completar esse processo pois estamos poluindo os corpos hídricos em quantidade e velocidade maior que a natureza é capaz de regenerar.

Referências e Sugestões de Leitura:

Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho ou publicação? Saiba como colocá-lo nas referências:

ABREU, Nathália. Qual futuro da água no Brasil? Será que teremos escassez?.  Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/voce-conhece-o-tratamento-de-esgoto-por-wetlands-construidos.html>.

Dia Mundial do Meio Ambiente – Como ele afeta sua vida?

Hoje é Dia Mundial do Meio Ambiente, data criada pela ONU (Organização das Nações Unidas) que já é celebrada há 50 anos. Mas qual a importância dessa data? Criada em 1972, após a Conferência de Estocolmo, o objetivo da data é a sensibilização ambiental, ou seja, nos lembrar como o meio ambiente é essencial para a manutenção da vida na Terra, incluindo a sua, de seus familiares e amigos.

No entanto, mesmo a data sendo celebrada há tanto tempo, a situação do meio ambiente, ao passar dos anos, está cada vez mais comprometedora: aumento do número de espécies ameaçadas de extinção e da quantidade de espécies extintas, desmatamento, queimadas, secas, erosão do solo, aumento do nível do mar e acidificação de suas águas, derretimento das calotas polares, aumento de eventos climáticos extremos como tempestades, furacões e consequentemente de inundações, deslizamento de terra, dentre tantos outros.

Estamos vivenciando um cenário de crises sem precedentes, que  António Guterres, Secretário Geral da ONU, denominou como Crise Tríplice, uma vez que engloba a Crise Climática, a Crise de Perda de Biodiversidade aliadas à Poluição e ao Desperdício que ameaçam o bem-estar e a sobrevivência de milhões de pessoas em todo o mundo. Essas crises se retroalimentam em um círculo vicioso, impulsionadas por nosso modo de vida, principalmente a forma como consumimos. Por isso, o tema escolhido para o Dia Mundial do Meio Ambiente esse ano é “Soluções para a Poluição Plástica”. E por que discutir especificamente sobre o plástico?

Imagem: Al Generated/ Freepik

Segundo informações da ONU, mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas a cada ano em todo o mundo, e metade deste plástico é de uso único, ou seja, é projetado para ser usado apenas uma vez. E para piorar o quadro de poluição e degradação ambiental menos de 10% da produção total de plástico é reciclado, o que significa que cerca de 360 milhões de toneladas de plástico deixam de ser recicladas anualmente. 

Ainda de acordo com a organização, estima-se que 19 a 23 milhões de toneladas acabem anualmente em lagos, rios e mares – reflexo do descarte incorreto, seja por desinformação ou por falta de políticas públicas eficazes na área de saneamento básico.

Poluição Plástica e Microplásticos

O plástico, que polui as águas ao longo de cerca de 400 anos, tende a se decompor em pequenas e perigosas partículas de até 5 mm de diâmetro, conhecidas como microplásticos. Esses representam uma grande ameaça tanto à saúde ambiental como à saúde de nós, seres humanos.

Estudos estimam que cada ser humano tende a consumir mais de 50 mil partículas de plástico por ano, é como consumir cerca de um cartão de crédito semanalmente. Se considerar a inalação dessas partículas a partir de resíduos plásticos queimados, essa quantidade tende a ser muito maior.

Imagem: Freepik

Por serem muito pequenas, as partículas de microplástico que seguem para os cursos hídricos são ingeridas pela fauna aquática gerando poluição e passando a integrar a cadeia alimentar. Além disso, devido ao seu tamanho, os microplásticos não são filtrados pela atual tecnologia usada para filtragem de água potável. O que nos faz ingerir cada dia uma quantidade maior dessas partículas.

 

Da Poluição a Busca da Solução no Brasil

Diante desse cenário alarmante de poluição, o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) junto aos ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima, da Ciência, Tecnologia e Inovação, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços realizará dia 6 de junho às 08h o evento “O Brasil em Busca de Soluções para a Poluição Plástica”.

Imagem: UNEP

O evento tratará sobre soluções para a poluição plástica em níveis global e local, com um olhar sobre o fomento à economia circular, incluindo o reuso e a reciclagem. Será a oportunidade para tratar urgência da eliminação da poluição plástica e para o comprometimento do governo, das empresas e da sociedade em desenvolver uma transição justa e equitativa para um mundo com menos plásticos.

Você poderá acompanhar o evento através da transmissão ao vivo no canais do Youtube do MMAMCITMDIC e PNUMA.

Da Poluição a Busca de Solução no Mundo

A nível global, podemos observar um movimento mais organizado e concreto a cerca da redução da poluição plástica.  No âmbito da ONU foi aprovado um acordo histórico para acabar com a poluição plástica e estabelecer um acordo internacional juridicamente vinculante até 2024, abordando todo o ciclo de vida do plástico (do design ao descarte).

E o que isso significa. Essa proposta cria o Comitê Intergovernamental de Negociação, responsável pela criação de alternativas que abordem todo o ciclo de vida do plástico, o design de produtos e materiais reutilizáveis e recicláveis, e a necessidade de uma maior colaboração internacional para facilitar o acesso à tecnologia, à capacitação e à cooperação científica e técnica.

Aprovação é aplaudida de pé. / Imagem: PNUMA

Os próximos anos serão de muito trabalho em direção a um modo de vida menos ligado à economia linear (de consumo e descarte) e mais envolvido com a economia circular – que dentre outras aspectos, por meio de pesquisa, desenvolvimento e inovação prevê menos descarte e mais reutilização e reincorporação de matérias-primas ao ciclo de produção, redesign e novas funcionalidades, gerando cada vez menos descarte e consequentemente menos poluição e externalidades ao meio ambiente.

 

Referências e Sugestões de Leitura:

 

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ABREU, Nathália. Dia Mundial do Meio Ambiente – Como ele afeta sua vida?. Autossustentável. Disponível em: <>.

Como lidar com o consumo infantil no final de ano?

Com a chegada do final do ano, somos bombardeados por estímulos ao consumo desde o mês de novembro com supostas promoções, avançando para festas e eventos que propõe troca de presentes.

As marcas e empresas investem pesado em propagandas junto com fortes apelos emocionais para vender o seu produto. Nós adultos precisamos estar atentos e planejados para não gastar e consumir de forma descontrolada e, por vezes, até adquirir dívidas.

Neste contexto, as crianças também são induzidas a desejos e necessidades de consumo com lançamentos e comerciais de muitos brinquedos, recheado de cores, sons e personagens.

Imagem: Creative Commons

Como lidar com o desejo de consumo das crianças nesta época? O que fazer com relação aos eventos e desejos por presentes?

É importante dizer que o diálogo com as crianças é indispensável, porém precisamos ser coerentes e refletir sobre as dificuldades de trabalhar questões como o consumo, especialmente neste período do ano.

Crianças são levadas a desejar e pedir presentes e, de acordo com a realidade socioeconômica em que vivem, amigos e parentes possivelmente darão todo tipo de brinquedo, roupa ou presentes que sejam falados e desejados no período.

Assim, o consumo acaba sendo estimulado, sem considerar necessidades reais além de gerar muito acúmulo.

Imagem: Unsplash

Privar as crianças de receberem presentes ou desejarem o que a mídia e a publicidade lhes apresentam, pode gerar sofrimento para elas, pois ainda estão em desenvolvimento criando e compreendendo valores.

O que podemos fazer então?

Se você for presentear uma criança e optar por um brinquedo, considere, se possível, valores das empresas e materiais mais sustentáveis, mas também é muito importante refletir sobre sua relevância para a aprendizagem e desenvolvimento infantil.

Não conhece muito sobre desenvolvimento infantil?

Muitos brinquedos acabam limitando as interações e criatividade, pois funcionam sozinhos, especialmente aqueles que ligam e fazem tudo sozinhos e aqueles que representam personagens conhecidos que as crianças apenas imitam o que já viram nos programas e desenhos assistidos.

Sendo assim, procure brinquedos com os quais as crianças possam interagir, criar, manipular peças, montar e desenvolver a brincadeira.

Imagem: Creative Commons

Além dos brinquedos, uma boa maneira de lidar com questões de consumo é utilizar materiais que já possuem em casa e confeccionar novos brinquedos ou dar nova utilidade, criando brincadeiras com a criança.

Brincar junto com os pequenos será prazeroso para eles e positivo para seu desenvolvimento, o que pode ser muito significativo no trabalho quanto ao consumismo e ainda gerar reflexões sobre valores. Além disso, possibilita a reutilização de materiais que seriam descartados, ensinando, consequentemente, práticas de sustentabilidade.

Já costuma se preocupar com consumo e sustentabilidade com a convive, porém ela recebe presentes de pessoas próximas e parentes?

Que tal aproveitar esse momento de chegada de brinquedos e roupas novas e refletir sobre os que já estão mais velhos?

A prática de revisar brinquedos e roupas das crianças pode propiciar um momento afetivo e, certamente, pensar sobre o que possui, observando se tudo o que tem e está em boas condições está sendo utilizado.

Neste momento, juntos podem verificar as coisas que não estão em boas condições e aprender a fazer o descarte correto. Fazendo isso, podemos perceber inclusive que geramos muitos resíduos.

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Já aquilo que estiver em boas condições, mas não for utilizado, poderá ser doado, atuando de forma muito expressiva no desenvolvimento infantil para que a criança compreenda o valor do que possui, além de conhecer a realidade de outras crianças, experienciar a importância de partilhar e a alegria de dar nova vida aos seus pertences que estavam parados e poderão levar felicidade a outras crianças.

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MATTARA, Bianca. Como lidar com o consumo infantil no final de ano. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/como-lidar-com-o-consumo-infantil-no-final-de-ano.html>.

Qual prioridade o Brasil (não) dá à Mobilidade Urbana Sustentável?

Cada vez mais, o mundo está de olho em tudo o que pode ser responsável por agravar o efeito estufa. E, ao falarmos sobre mobilidade urbana, a atenção que recai sobre o assunto é ainda maior.

De acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), os automóveis de passeio são responsáveis por 62% das emissões de monóxido de carbono, enquanto os ônibus somam cerca de 2%.

Ironicamente, as cidades seguem incentivando políticas de aquisição de veículos particulares, uma vez que o Estado brasileiro é sócio e refém da indústria automobilística. Como se não bastasse, a sociedade carrega a tradição do carro próprio como símbolo de poder e status.

E o problema não para por aí.

Automóvel particular: o lobo em pele de cordeiro

O espaço físico ocupado pelos automóveis é absolutamente desproporcional quando comparado ao transporte coletivo. Em 2017, o sistema viário da cidade de São Paulo era composto da seguinte maneira:

  • 3,7 milhões de pessoas eram transportadas por uma frota de 17 mil ônibus;
  • 2,7 milhões de pessoas eram transportadas por uma frota de 4 milhões de automóveis individuais.

Em síntese, os carros utilizavam uma frota 250 vezes maior para transportar um número de pessoas 27 vezes menor em relação ao transporte público coletivo. Não à toa, os automóveis ocupam cerca de 80% da malha viária e os ônibus apenas 6%, demonstrando a falta de democratização das vias públicas.

Na contramão de países desenvolvidos, o Brasil prioriza o transporte individual ao invés do coletivo:

  • O diesel, que representa cerca de ¼ do custo total da tarifa no transporte público, subiu 250% nos últimos 19 anos;
  • A gasolina, principal combustível utilizado nos veículos individuais, no mesmo período sofreu um reajuste de 56,4%.

Além disso, segundo um estudo realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), o país soma 1.062 Km de linhas de metrôs e trens, contando com um déficit de 850 Km. Para transportar 25 mil pessoas, um trem precisaria dar 9 viagens e um automóvel quase 14 mil viagens. Alguma dúvida de que o modal errado está sendo priorizado?

No Brasil, o transporte público praticamente não conta com subsídios do poder público, ou seja, todos os custos são cobertos pela tarifa paga pelos passageiros. Com valores crescentes de passagem, superlotação e horários irregulares, mais gente se vê obrigada a recorrer aos automóveis particulares ou aos percursos a pé.

O impacto das bicicletas e dos carros elétricos

A bicicleta é o meio de transporte mais sustentável e que, justamente por isso, deveria ser fomentada. Governos que já se conscientizaram a respeito da proeminente crise climática que estamos enfrentando, têm buscado estimular seu uso.

Como exemplo, podemos citar Finlândia, Itália e França que financiam e oferecem subsídios de até 16 mil reais para motoristas que trocarem os carros por bikes.

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Em São Paulo, porém, pesquisas apontam que a falta de segurança impede os paulistanos de adotar a bicicleta como meio de transporte principal. Vale ressaltar que pintar uma faixa na rua e chamá-la de ciclovia não basta, é preciso que haja planejamento urbano e mudança de paradigmas.

A propósito, falando em mudança, diversas montadoras de veículos ao redor do mundo têm anunciado a substituição de suas frotas por modelos elétricos, que são menos agressivos ao meio ambiente. Sem dúvida, a decisão representa um avanço.

Contudo, se a partir de hoje, todos os novos carros vendidos no mercado passassem a ser elétricos, ainda levaria de 15 a 20 anos para substituir completamente a frota mundial de carros movidos a combustível fóssil.

Além do mais, continuar extraindo recursos naturais e descartando pneus, óleos e carcaças não parece uma estratégia muito revolucionária. A solução não está em tornar os carros mais verdes, mas sim em frear sua existência.

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Para tanto, é preciso pensar na expansão dos modais sustentáveis de forma acessível e segura, bem como estar atento à demanda de calçadas niveladas e sem buracos. Afinal, ⅓ das viagens realizadas nas cidades brasileiras é feita a pé ou em cadeiras de rodas.

Solução definitiva precisa do Público-Coletivo

Transformar o cenário atual exige limitar a lotação dos ônibus e ampliar as frotas para que eles passem com maior frequência nos pontos. É crucial também, que a acessibilidade seja adequada e planejada corretamente para incluir pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.

Políticas de incentivo ao transporte sustentável já existem e são adotadas: Barcelona oferece passagem gratuita por três anos a cidadãos que vendem seu veículo antigo; a prefeita de Paris, por sua vez, busca a redução dos automóveis aumentando zonas restritas a pedestres.

Imagem: Freepik

Embora o problema seja difícil de ser resolvido, não é, nem de longe, impossível. Aos poucos, a cultura tem mudado e o automóvel deixado de ser o sonho de consumo das pessoas com maior consciência ambiental.

Lentamente, esse desejo passado de geração em geração, perde força e para que isso ocorra de forma rápida e definitiva, o caminho é claro: priorizar o transporte público coletivo, que é dever e direito de todos!

 

Referências e Sugestões de Leitura: 

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SILVA, Pâmela. Qual prioridade o Brasil (não) dá à Mobilidade Urbana Sustentável?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/qual-prioridade-o-brasil-nao-da-a-mobilidade-urbana-sustentavel.html>.

Quanto sua Cidade Estoca de Carbono?

O paisagismo urbano se manifesta na forma de plantas arbóreas, arbustivas e herbáceas, tanto nas calçadas de ruas e avenidas, e em praças e canteiros, quanto em áreas privadas, parques municipais, outras Unidades de Conservação e áreas verdes residuais.

A somatória de todos esses espaços constitui o que chamamos de Floresta Urbana. Dentre os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) acordados na Cúpula das Nações Unidas até 2030, 9 são contemplados pelos benefícios das Florestas Urbanas. A melhoria microclimática advinda das árvores não se restringe apenas a um benefício ecológico, mas também econômico e social (MARTINI, 2015).

Parque das Mangabeiras, Fragmento Florestal Urbano localizado na Zona Sul de Belo Horizonte, com relevância no processo de estoque de carbono. Foto: Leonardo Paiva/ Autossustentável.

De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), as árvores em ambiente urbano contribuem para o resfriamento do ar, filtragem de poluentes, regulação do fluxo de água e melhora da qualidade da água, fornecimento de madeira e não-madeireiros, fornecimento de alimento, melhoria da saúde física e mental, redução da necessidade de resfriamento artificial do ar e economia de energia, aumento da biodiversidade urbana, valorização dos imóveis ao redor, estocagem de carbono e mitigação das mudanças climáticas. Ainda é possível extrair mais benefícios que estes citados, conforme se discute o assunto.

De todos esses serviços ecossistêmicos, o mais relevante para este artigo – mas não o único – é a estocagem de carbono e mitigação das mudanças climáticas. O conceito de sequestro de carbono, consagrado pela Conferência de Quioto, em 1997, é a absorção, pelas plantas durante o processo de fotossíntese, de grandes quantidades de gás carbônico (CO2) da atmosfera. As árvores, cujo tronco é 80% composto de carbono, são verdadeiros aspiradores de CO2 da atmosfera: 150 a 200 toneladas do gás por hectare. Uma árvore, sozinha, é capaz de absorver 180 quilos de CO2.

Segundo artigo na Revista Brasileira de Ciência do Solo, atualmente, tem sido constatada a intensificação do aquecimento global, causado pelo aumento das emissões dos gases responsáveis pelo efeito estufa, oriundos principalmente da queima de combustíveis fósseis, do desmatamento e do uso inadequado do solo para agricultura. No contexto urbano, o fator primordial é o desmatamento, uma vez que, é o processo natural para o surgimento de uma cidade.

Mesmo que não se configurem entre as maiores causadoras da destruição de habitats e do desmatamento, as cidades abrigam cada vez mais pessoas e, consequentemente, ocupam mais espaço. Existem grandes megalópoles pelo planeta, como entre São Paulo e Rio de Janeiro, a famosa Bos-Wash (Boston-Washington) e entre as cidades japonesas de Tóquio, Kitakyushu e Osaka, além de muitas metrópoles, cidades médias e pequenas. Todas essas áreas, servidas de bom aporte de vegetação, trazem uma contribuição a mais no processo de retirada de CO2 da atmosfera e, consequentemente, na mitigação das mudanças climáticas.

Árvores presentes no centro de Belo Horizonte – MG. A arborização de ruas e avenidas também contribuem para a mitigação das mudanças climáticas. Foto: Leonardo Paiva/ Autossustentável.

Na perspectiva de que toda e qualquer árvore ou arbusto presente nas cidades sequestra carbono nos seus troncos e, em larga escala, esse processo traz alguma contribuição para mitigar o aumento da concentração relativa de CO2 na atmosfera, temos um montante que não deve ser desprezado. Em Belo Horizonte, por exemplo, cerca de 12% de seu território é formado por áreas verdes compostas por remanescentes florestais. Isso significa 40Km² de área para estoque de carbono ou, de acordo com os números mostrados acima, cerca de 700.000 toneladas de CO2! Isso sem considerar as plantas presentes nas ruas, avenidas e jardins particulares.

Outro efeito, mais indireto, diz respeito à sensibilização das pessoas às questões ambientais quando em contato com áreas verdes. A experiência prática dos cidadãos, corroboradas por estudos, sugerem que a presença de parques – ou qualquer espaço amplamente arborizado e tranquilo, inserido no contexto turbulento de uma cidade – como o Ibirapuera em São Paulo, o Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, ou o Américo René Gianetti, em Belo Horizonte, têm potencial de diminuir a ocorrência de transtornos mentais comuns. Isso pode afetar os cidadãos para além do contexto urbano: olhar para fora da cidade significa se preocupar com o Cerrado, com a Mata Atlântica e com a Amazônia e com a luta pela preservação destes biomas, sim, traz benefícios importantes quanto à mitigação das mudanças climáticas.

Referências e Sugestões de Leitura:

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Saiba como colocá-lo nas referências:

PAIVA, Leonardo. Quanto sua Cidade Estoca de Carbono?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/quanto-sua-cidade-estoca-de-carbono.html>.

Como trazer a discussão sobre Justiça Climática para a sala de aula?

Nosso planeta já sofre atualmente as consequências da emergência climática e os cientistas deixaram claro no último relatório do IPCC que as ações antrópicas são a causa dessa intensificação do aquecimento da Terra [1]. Entretanto, definitivamente não sofremos os impactos de forma equitativa.

Os termos “injustiça climática” e “racismo ambiental” trazem justamente esse debate: as populações mais vulneráveis e oprimidas são as mais afetadas, as que menos contribuíram com o problema e que são pouco representadas nas mesas de proposição de soluções e políticas públicas.

Imagem: Freepik

Tenho visto essa pauta muito mais presente nos meios de comunicação, produções acadêmicas e até na última COP realizada em Glasgow. Entretanto, a escola, como aliada fundamental no enfrentamento da emergência climática, também precisa acompanhar e inserir o debate em suas propostas e ações.

Elenco aqui algumas dicas e possibilidades para iniciar o trabalho com justiça climática na escola – entendendo que tudo isso depende sempre do contexto, faixa etária e maturidade dos grupos.

Imagem: Freepik

Estudar e dialogar sobre o tema

É essencial buscar conhecimento e trocar com outros educadores sobre o assunto. Proponha grupos de estudos, leitura de livros e artigos, rodas de diálogo e caso sinta necessidade, convide algum especialista para conversar com o grupo.

Conhecer e apresentar outras lideranças climáticas

Os jovens e crianças precisam ter outras referências para além da Greta Thunberg. Lideranças negras, indígenas e quilombolas como Txai Suruí, Paloma Costa e Vanessa Nakate.

Contar histórias

Compartilhar histórias de comunidades e pessoas que foram impactadas pela emergência climática, com nomes, rostos e endereços costuma sensibilizar e criar mais empatia.

Analisar imagens e realizar exposições fotográficas

Imagens têm um potencial muito grande de serem disparadoras para vários debates e diferentes interpretações. Observar fotos de eventos climáticos extremos ou até mesmo bairros com maior poluição ou contaminação pode trazer reflexões sobre o que essas comunidades têm em comum.

Enchente histórica atinge mais de 800 famílias na região de fronteira. Foto: Sérgio Vale/Agência de Notícias do Acre/ Agência Brasil

Propor jogos de papéis

Se colocar no lugar de um grupo de atores, comunidades e até países para dialogar com outros grupos pode ser uma atividade muito rica para o debate sobre justiça climática. Como seria estar na COP 27 como representante de Tuvalu, uma ilha no Pacífico que pode desaparecer do mapa com o aumento do nível do oceano?

Assistir a filmes e documentários

Assim como as fotos, o audiovisual tem um potencial enorme de sensibilização e de fonte para de debates.

Se conectar e se inspirar com outros movimentos e grupos

Inspire-se e conecte-se com outros grupos que estejam discutindo sobre a temática e até mesmo lutando por justiça climática. É importante que possamos nos fortalecer e enxergar caminhos possíveis e grupos atuantes.

O tema é complexo e pode parecer desafiador para muitos, mas não podemos mais encarar desafios ambientais sem colocar o debate sobre justiça social e o fim das desigualdades e opressões na conversa. Afinal, como bem colocou Robert Gilman, “não existem problemas ambientais, existem apenas sintomas ambientais de problemas humanos”.

*Se você já fez algum trabalho sobre justiça climática em sua escola ou qualquer outra instituição, comenta aqui que vou adorar conhecer. E se tiver qualquer dúvida, estou também à disposição para o diálogo.

[1] IPCC. Climate Change 2021, The Physical Science Basis, 2021.

Gostou do nosso conteúdo e quer fazer referência deste artigo em um trabalho?
Saiba como colocá-lo nas referências:

RIBEIRO, Livia. Como trazer a discussão sobre justiça climática para a sala de aula?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/como-trazer-a-discussao-sobre-justica-climatica-para-a-sala-de-aula.html>.

Você conhece o Tratamento de Esgoto por Wetlands Construídos?

Imagem: Jörn Uwe Germer/ Wikimedia

Ao acessar o site do Instituto Trata Brasil, fui recepcionada com a seguinte informação: desde o mês de Janeiro de 2021, são despejadas – POR DIA – no meio ambiente “5.368 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento”.

Como já descrito em um artigo aqui no site, o esgoto passa por dois processos – coleta e tratamento – antes de ser despejado em corpos hídricos. Porém, devido a deficiências no sistema sanitário apenas 46% do esgoto gerado é devidamente coletado e tratado, segundo o “Ranking do Saneamento de 2021, do Instituto Trata Brasil.

Imagem: Freepik

Além dos impactos ambientais, a insuficiente coleta e tratamento de esgoto ocasionam problemas de saúde pública e escassez hídrica. Somente em 2019 houve mais de 270 mil internações causadas por doenças relacionadas à falta de saneamento básico, e cerca de 16% da população brasileira carecem de água potável.

O tema possui tanta importância que um dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), o ODS 6, prevê acesso equitativo à água potável e ao saneamento até 2030. Em paralelo, destacam-se as Soluções Baseadas na Natureza – SBN, como alternativas da área de planejamento urbano, que visam a consolidação de Cidades Sustentáveis no Brasil e no mundo.

Imagem: ONU Brasil

Uma das SBN é o Tratamento de Esgoto por Wetlands Construídos, uma tecnologia baseada nos princípios das áreas naturalmente alagadas (pântanos, brejos, várzeas, mangues, charcos, entre outros), que se originou na década de 1950 e que vem ganhando interesse por ser um sistema simples e de baixo custo.

Os Wetlands Construídos são basicamente a construção de canais ou lagoas artificiais que abrigam plantas aquáticas, onde são despejados esgotos e a partir da interação desse ecossistema e seus processos físicos, químicos e biológicos, ocorre a modificação da qualidade e a despoluição da água. Ou seja, reproduzem os processos de áreas naturalmente alagadas, mas de maneira controlada.

Podem ser classificados em dois tipos: os sistemas que utilizam plantas aquáticas flutuantes, e os que utilizam plantas aquáticas emergentes. No primeiro, trata-se de canais rasos cuja espécie mais utilizada no Brasil é a Aguapé (Eichhorniacrassipes), a qual apresenta elevada capacidade de resistir a altos níveis de poluição da água. No segundo caso, o grupo de plantas mais utilizado é o Junco, sendo a Taboa (Typhadomingensis) e o Caniço (Phragmitesaustralis) as espécies mais conhecidas. Nesse sistema, as raízes das plantas se prendem aos sedimentos depositados, e, por isso, os lagos devem ser projetados com maior profundidade.

Diagrama de fluxo vertical “pântanos construídos”, usado para tratamento de águas residuais. Imagem: Swiss Federal Institute of Aquatic Science and Technology Technical drawings: designport, Paolo Monaco, Zurich

Os Wetlands Construídos apresentam muitas vantagens, e uma delas é que podem ser aplicadas de maneira descentralizada, ou seja, para o tratamento de águas residuais domésticas, industriais, de mineração ou urbanas. Soma-se também o fato de ser uma tecnologia de baixo custo de implantação e manutenção, comparando-se aos métodos tradicionais.

O tamanho da área necessária para o projeto pode ser o principal desafio para sua implantação em grandes centros urbanos. Por outro lado, o planejamento prévio de parques residenciais ou industriais pode viabilizar a implantação, pois além do tratamento de esgoto dessas áreas, podem servir como jardins filtrantes na drenagem das águas pluviais urbanas, minimizando o perigo de enchentes e alagamentos.

Há diversos estudos que comprovam a eficiência de Wetlands Construídos em áreas urbanas e rurais, como os realizados pelo Grupo de Estudo em Saneamento Descentralizado – GESAD da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), demonstrando que esse sistema possui grande potencial estratégico para aplicação em comunidades locais, principalmente aquelas carentes de esgotamento sanitário.

Outro fator relevante é o seu “anonimato”, pois numa pesquisa informal feita em minhas redes sociais, constatei que num total de 200 pessoas, apenas 19% tinham conhecimento de Wetlands Construídos, ou seja, nem 40 pessoas sabiam do que se tratava.

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Se além dos métodos tradicionais de tratamento de esgoto, também houver interesse por métodos alternativos e espaço para parcerias entre universidades, poder privado e poder público, seria possível reverter a quantidade alarmante de “piscinas de esgoto” mencionada inicialmente.  Somente com a combinação de soluções globais e locais é que o cumprimento da gestão sustentável da água e saneamento equitativo poderá ser alcançado até 2030.

Referências e Sugestões de Leitura:

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ARTIJA, Maria Vitória. Você conhece o Tratamento de Esgoto por Wetlands Construídos?.  Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/voce-conhece-o-tratamento-de-esgoto-por-wetlands-construidos.html>.

Quem é a população de baixa renda?

A erradicação da pobreza é uma das metas da humanidade e muitos planos de ação foram criados por governos a fim de minimizar as diferenças discrepantes de renda. Na Constituição Federal, um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil é “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.”

Para tanto, temos a Seguridade Social que se divide em três grandes áreas: previdência, saúde e assistência social. Na área de previdência, somente tem acesso aqueles que trabalham e contribuíram para a Previdência, mas nas áreas de saúde e assistência social não existe a necessidade de contribuição ou pagamento. Todo brasileiro tem direito a receber auxílio nessas duas áreas. No entanto, alguns benefícios e serviços são criados apenas para a população carente ou de baixa renda.

Imagem: Freepik

A Assistência Social é destinada a identificar e proteger pessoas em risco social, principalmente a população de baixa renda, a fim de minimizar as consequências que a pobreza tem na dignidade e qualidade de vida da população. Seus objetivos constitucionais são:

  • I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
  • II – o amparo às crianças e adolescentes carentes;
  • III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;
  • IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;
  • V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Uma das grandes questões é a capacidade de atendimento e também a necessidade de saber quem é a população carente ou de baixa renda que terá direito aos benefícios e programas governamentais.

Foto: Marko Milivojevic/ Pixnio

Este benefício mensal mencionado nos objetivos da assistência social é o Benefício de Prestação Continuada – BPC, também chamado de LOAS ou benefício assistencial. É pago para quem tem mais de 65 anos ou para a pessoa com deficiência e, nos dois casos, que comprovem baixa renda. Existe uma lei específica que regulamenta e é nela que descobrimos o critério de miserabilidade (sim, esse é o termo da lei): a renda por pessoa do grupo familiar não pode ultrapassar ¼ de salário-mínimo (R$ 275,00). Para calcular este valor a lei permite que sejam descontados alguns gastos e em algumas situações pode chegar a ½ salário-mínimo por pessoa.

Recentemente houve a regulamentação do auxílio-inclusão, para aquelas pessoas com deficiência que tem direito ao Benefício de Prestação Continuada, mas que desejam voltar ao mercado de trabalho. Além de provar que tem direito ao BPC, o salário do novo trabalho não deve ultrapassar 2 salários-mínimos. E então esta pessoa poderá receber um benefício equivalente a metade do salário-mínimo.

Imagem: Freepik

Outro benefício que utiliza o critério de baixa renda é o auxílio-reclusão. Quando um trabalhador que contribui para a previdência, mas que recebia um salário de até R$ 1.503,25, os seus dependentes (esposa/esposo e filhos) poderão receber o auxílio-reclusão. Isto para proteger principalmente as crianças e adolescentes de baixa renda.

O novíssimo Auxílio-Brasil (criado no início de novembro), que vem substituir o Bolsa-Família, tem um novo critério chamado de “Linha de Extrema Pobreza”, com renda mensal por pessoa da família de até R$ 100,00), e “Linha da Pobreza”, com renda mensal entre R$ 101,00 e R$ 200,00. Conforme a renda e outras características é possível receber benefício de R$ 130 ou R$ 65,00 por integrante da família.

Foto: Davidson Luna/ Unsplash

Como vimos, cada benefício tem seu próprio critério de baixa renda baseados em valores objetivos, mas é necessário verificar as características de cada grupo familiar para que se tenha direito a esses benefícios. Todo o aparato da Assistência Social está direcionado para mapear e auxiliar a população de baixa renda a ter acesso a esses serviços e benefícios.

Saiba mais:

Seja qual for o critério de baixa renda, todos os benefícios devidos a essa população têm como pressuposto o cadastro no CadÚnico. Esse cadastro é feito nos CRAS – Centros Regionais de Assistência Social. A meta é cadastrar todas as famílias de baixa renda e há a necessidade de atualização do cadastro a cada 2 anos ou sempre que a renda familiar for alterada.

O “Meu CadUnico” é um aplicativo para celular e site em que é possível acessar as informações lá cadastradas. Esse sistema utiliza a mesma senha do “Conecte SUS”, do “Meu INSS” e da “Carteira de Trabalho Digital”.

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STEFFEN, Janaína. Quem é a população de baixa renda?.  Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/quem-e-a-populacao-de-baixa-renda.html>.

Tratamentos para Linfedema – Recuperando Bem-Estar e Qualidade de Vida

Manter a saúde física e mental é essencial para o bem-estar e uma melhor qualidade de vida. Devido à pandemia, tivemos nossa rotina de vida drasticamente alterada.

A adoção de home office deixou a rotina diária ainda mais agitada com vida profissional e pessoal compartilhando o mesmo espaço. E isso colaborou para que muitas pessoas desenvolvessem maus hábitos de vida, como o sedentarismo – por falta de atividades físicas – e alimentação nada saudável – com a explosão do consumo de fast food por entrega.

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Os maus hábitos afetam nossa saúde, provocando sobrepeso, obesidade, aumento da chance de desenvolvimento de alguns tipos de câncer e doenças crônicas como diabetes e pressão alta. Esses distúrbios potencializam o surgimento de linfedemas, que afeta 15% da população mundial.

O linfedema ocorre por danos no sistema linfático que é composto por vasos e gânglios linfáticos distribuídos pelo corpo. Funcionando paralelamente ao sistema circulatório, esse sistema tem como principal função controlar os fluidos teciduais, ou seja, coletar e transportar água, proteínas, gorduras e outros resíduos das células do corpo – substâncias que compõe a linfa.

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O tipo mais comum de linfedema é o de membros inferiores, atingindo até 80% das pessoas que desenvolvem essa doença. Inchaço e sensação de peso nas pernas devido ao acúmulo de linfa, diminuição da mobilidade e dores são alguns dos sintomas do linfedema nas pernas. Essa doença compromete a qualidade de vida dos pacientes, pois reduz sua independência e impacta diretamente na imagem corporal.

Assim, os tratamentos para linfedema nas pernas são de extrema importância para a recuperação da auto-estima e da qualidade de vida. Drenagem linfática; tratamento com meia de compressão; uso de medicação; exercícios físicos e avaliação nutricional; e tratamento com aparelhos de retorno venoso são alguns dos tratamentos existentes para linfedema nas pernas, que devem ser prescritos de acordo com o estágio da doença.

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É imprescindível a busca por assistência médica qualificada assim que os primeiros sintomas surgirem, pois quanto antes for iniciado o tratamento, mais rápido os sintomas podem ser atenuados. Com a avaliação médica é possível dar início ao tratamento que, além de auxiliar o indivíduo a melhorar a condição de maior gravidade, também colabora para a manutenção da saúde ao longo de tempo.

Comunidades Digitais: conectando pessoas e ideais através da biodiversidade digital

O tema das relações digitais efêmeras e da produção desenfreada de conteúdo não é algo surpreendentemente novo. Parece que de alguma forma normalizamos o contato e o consumo dessa nova vida digital. Para muita gente, aqueles que conseguiram se adaptar e prosperar neste cenário (de preferência mantendo a saúde mental), esse movimento também é sinônimo de lucro.

A pandemia, as incertezas, as transformações e a crise intensificaram ainda mais esse universo. Fizeram com que muita gente precisasse se reinventar, tanto na forma de oferecer conteúdo, serviços e produtos, quanto na forma de consumir.

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Mesmo diante de limitações (e talvez justamente por causa delas), abriu-se espaço para oportunidades. Já dizia Bill Molisson, o pai da permacultura: “o problema é a solução”. Cada adversidade se torna placenta para soluções criativas e inovadoras. As estratégias de oferta, a comunicação e o relacionamento com os clientes precisaram ser repensadas.

O online virou a palavra-chave desse novo normal. Um grande desafio para quem já tinha seu negócio estabelecido, mas um momento oportuno para quem estava precisando se reinventar, se profissionalizar, mudar de área ou estudar sobre algum tema específico. A hora de tirar aquele hobby da gaveta, se encantar com alguma novidade e distrair a mente para não surtar.

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Segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), em 2020 durante a quarentena o uso da internet no Brasil cresceu entre 40% e 50%. Os dados também mostram que o impacto do isolamento contribuiu para que 46% dos brasileiros fizessem mais compras online. No setor educacional, os números são ainda maiores. As buscas por cursos online cresceram 73% de acordo com dados do Google.

Profissionais das mais diversas áreas aproveitaram a reclusão e a introspecção em meio à crise global para colocar no mundo seus projetos de ensino a distância. Aos poucos foram surgindo os mais diversos tipos de cursos. Quem surfou a primeira onda deve ter feito tantos zeros de lucro que, sem dúvida, aguçou o mercado. Plataformas se aprimoraram e deram início a uma grande corrida audiovisual com múltiplos formatos de produção, das mais caseiras às mais robustas.

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Nesse momento ganharam espaço aqueles cursos que te ensinam a vender seu próprio negócio, seja ele sobre cursos, serviços, conteúdos ou outros, sendo infoproduto ou não. Esses gurus da web dizem saber os segredos de como driblar o algoritmo, detém a resposta definitiva para o sucesso virtual. Com o passar dos meses, essas estratégias foram ficando cada vez mais óbvias e populares.

É só rolar o feed e observar. Praticamente todo mundo faz mais ou menos do mesmo jeitinho, com as mesmas palavras chaves, a mesma linguagem, as mesmas dancinhas, ritmos e jargões. É sobre isso, mas está mesmo tudo bem?

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Esse novo modelo do marketing-digital-versão-pandêmica e todos os seus gurus representam a monocultura da nossa mente. Representam a forma engessada de como estamos consumindo e produzindo conteúdo na internet e fora dela.

Passamos a entender nossos consumidores e clientes como números, suas vidas foram catalogadas em interesses e perfis de navegação. Seus desejos se tornam gatilhos para que sintam necessidade daquilo que oferecemos, vibrando a máxima da escassez. Afinal de contas, se você não comprar agora vai perder benefícios super exclusivos.

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É o padrão de beleza e a harmonização que se repete da mesma forma. A criatividade vem sendo tratada como commodity e, o pior, é que muitas vezes nos convencem em menos de 15 segundos a clicar no link e mudar de vida.

Se olharmos para a natureza, podemos perceber que essa padronização não faz sentido. A primeira coisa que salta aos olhos em uma floresta é a biodiversidade. Cada ser é único e especial e carrega consigo uma forma igualmente única e especial de perceber o mundo, de interagir e comunicar com tudo ao seu redor. Se massificamos a oferta, massificamos a procura. Repetimos os padrões que nos colocaram neste colapso climático e não estamos mudando o paradigma para garantir o bem-estar coletivo.

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Aliás, de coletivo esse movimento não tem nada. Geralmente essas estratégias de vendas digitais são centradas em um especialista que se torna inalcançável, desejado e hiper-valorizado. O objetivo muitas vezes está voltado para a quantidade e não para a qualidade, para a escassez ao invés da abundância.

Precisamos perceber que, assim como na natureza, o que gera mais lucro é justamente a abundância. Um sistema abundante é próspero, biodiverso e coletivo por conta das trocas e relações entre seus membros. Estamos esquecendo que a grande solução sempre esteve na natureza e se chama: comunidade. É uma união de seres com intenção, organização e troca. Valorizando a bagagem e as individualidades presentes no todo, aprendendo a somar as diferenças e multiplicar as conquistas, dividindo as missões.

Aprendi com o trabalho da Izadora Barros (www.instagram.com/izadorabarros) que as comunidades estão em tudo – da onde viemos, como sobrevivemos, o que buscamos, para onde vamos. Segundo ela, a comunidade é um espaço acolhedor, físico ou digital, em que uma pessoa lidera outras pessoas com um propósito em comum, com a intenção de criar um espaço seguro, de conexão, capacitação e evolução contínua em coletivo por meio da cooperação.

Isso porque, sim, somos animais sociáveis e co-dependentes que, mesmo estando em comunidade o tempo todo, criamos um sistema que muitas vezes reforça submissão, desconfiança, a não participação, a escassez e competição.

É preciso buscar uma conexão maior e de mais qualidade com nosso público. Embora as redes sociais sejam boas ferramentas, ainda existem muitas barreiras para a construção de relacionamento e confiança. As redes sociais são apenas um instrumento, não são a estratégia e não são perfeitas. O próprio termo social, das mídias sociais, tem sido deixado de lado. Estamos socializando ou apenas tentando vender?

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As comunidades são a resposta para estimular a biodiversidade digital e para driblar tanto os problemas online de falta de engajamento, baixo alcance, publicidade super cara, poucas vendas e etc, mas também para os problemas do mundo material e os percalços socioambientais que enfrentamos como sociedade planetária. As comunidades trazem justamente o elo que nos tem feito falta ultimamente: sensação de pertencimento e colaboração.

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GRINSZTEJN, Camila. Comunidades Digitais: conectando pessoas e ideais através da biodiversidade digital. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/comunidades-digitais-conectando-pessoas-e-ideais-atraves-da-biodiversidade-digital.html>.

Cuidado com as Armadilhas da Black Friday! Confira dicas para economizar e praticar o consumo consciente

Chegamos a mais uma Black Friday, época de maior venda e faturamento dos comerciantes, principalmente dos grandes varejistas. É também época de preços mais baixos, certo? Bem, não necessariamente, mas esse não é o único problema.

A cada ano, o consumo avança de maneira preocupante para a manutenção da vida. Não é exagero! O consumo predatório está chegando a níveis nunca antes vistos, isso pode ser constatado com a chegada cada vez mais cedo do Dia de Sobrecarga da Terra [1], com as emissões de GEE (gases de efeito estufa) que batem recorde ano após ano e do impacto do sistema produtivo no meio ambiente com o avanço das mudanças climáticas.

Imagem: Pikisuperstar/ Freepik

Nessa onda de consumismo gerada pela data, não nos lembramos de refletir sobre alguns pontos essenciais antes da finalização da compra. Então inspire com calma e leia essas dicas antes de voltar para o seu carrinho de compras.

A compra é realmente necessária?

Esse deve ser o nosso pensamento antes de realizar qualquer compra. Será que aquele produto é realmente necessário para você? Ou você está agindo por impulso?

Imagem: Freepik

O planejamento financeiro é essencial para manter as contas em dia, ainda mais na crise econômica que o país atravessa com taxas crescentes de desemprego e inflação. Em outras palavras, use sempre a boa e velha lista de compras – seja para a compra dos alimentos da semana, daquela blusinha ou de eletro-eletrônicos. Esse hábito nos ajuda a poupar dinheiro, evitar desperdícios e o descarte de resíduos sólidos urbanos (RSU).

Pesquisa de preços

Esse ponto é crucial, considerando o propósito da Black Friday – comprar produtos por preços menores que em outros períodos do ano. Mas cuidado com as propagandas enganosas! Infelizmente, é bem comum várias empresas elevarem os preços de seus produtos pouco tempo antes da Black Friday para que nessa data os preços estejam próximos aos preços comumente praticados. E existem ainda empresas que praticam preços até maiores que em outros períodos.

Se você não conseguiu fazer um acompanhamento prévio dos preços durante o ano, não se preocupe! Você ainda pode realizar uma pesquisa de preços através de sites e aplicativos que mostram o histórico de preços de produtos como: Buscapé, Zoom e Bondfaro.

Qual a origem do produto que você deseja comprar?

Além do preço, você se preocupa com a origem dos produtos que consome? Com a globalização e com o e-commerce as barreiras deixaram de existir e facilmente podemos comprar produtos vindos do outro lado do mundo e, muitas vezes, por valores menores do que os vendidos por aqui.

Imagem: Starline/Freepik

Mas o custo de envio desses produtos para sua casa não se limita apenas ao frete cobrado. Nessa conta também entra a pegada carbono – as emissões de gases de efeito estufa (GEE) durante o ciclo de vida do produto (correspondente a toda a cadeia produtiva, desde a extração da matéria-prima para a fabricação do produto, passando pelo envio até sua casa e no retorno desse bem ao fabricante – em caso de logística reversa).

Como esse produto é fabricado?

Do que é feito o produto que você deseja comprar? Que tipo de mão-de-obra é utilizada na produção? Você leva em consideração a composição do produto no momento da compra? Essas são algumas perguntas que costumam passar despercebidas, mas que são essenciais para o consumo consciente.

A empresa produtora possui algum compromisso com a redução de impactos socioambientais?

Felizmente, já podemos observar empresas que realmente estão se engajando na mudança da cultura organizacional em prol da inserção da sustentabilidade não apenas em sua cadeia produtiva, mas, também, exigindo que seus fornecedores caminhem na mesma direção.

Foto: Adeolu Eletu/ Unsplash

É claro que a absorção da sustentabilidade pelas empresas vai ocorrer de acordo com o tamanho, do ramo de atividade, da importância do tema para a gestão estratégica dos negócios, da disponibilidade de investimento e de vários outros fatores. No entanto, com o boom do ESG no mundo pandêmico, podemos observar muitas empresas se utilizando de termos ligados à sustentabilidade empresarial de forma rasa e falaciosa – é o greenwashing que continua sendo usado.

Existe política pós-consumo para o produto?

A política de pós-consumo está ligada diretamente a existência de programas de logística reversa nas empresas.  Com a adoção da PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), a logística reversa [2] de alguns materiais se tornou obrigatória: agrotóxicos, seus resíduos e embalagens; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; e produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

Para outros materiais ainda é facultativa a existência de logística reversa de produtos e embalagens. Mas considere esse como grande diferencial na avaliação do produto que deseja comprar, já que, o problema não deixa de existir quando o produto e sua embalagem são descartados. Lembre-se: Não existe jogar fora!

Referências e Sugestões de Leitura:

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ABREU, Nathália. Cuidado com as Armadilhas da Black Friday! Confira dicas para economizar e praticar o consumo consciente. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/cuidado-com-as-armadilhas-da-black-friday-confira-dicas-para-economizar-e-praticar-o-consumo-consciente.html>.

Empresa paulista cria soluções para cadeias produtivas se tornarem circulares

Incentivar a transformação da economia linear em economia circular, essa é a incrível proposta da empresa paulistana Boomera, transformando resíduos de difícil reciclagem (plásticos com dupla ou tripla composição) em matéria-prima para novos produtos tanto para uso industrial como doméstico para os consumidores.

Com o slogan “Do início ao início”, um dos pilares da economia circular, a empresa tem a missão de auxiliar grandes empresas a gerenciar o pós-consumo e seus materiais de forma mais sustentável. Por meio da logística reversa (com a inclusão de cooperativas de catadores no processo) e da reintrodução desses resíduos na cadeia produtiva, é possível transformar esse mar de resíduos em uma nova realidade.

Imagem: Freepik

As embalagens descartadas – que na maioria das vezes são destinadas a aterros sanitários por possuírem compostos altamente complexos e classificados como rejeitos – são a matéria-prima que a Boomera trabalha dando nova utilidade a eles. Os resíduos utilizados são os mais variados possíveis, eles vão de cápsulas de café e sachês de molhos à fraldas descartáveis e plástico retirado dos oceanos.

Ao envolver as cooperativas de catadores de materiais recicláveis no processo da coleta desse material, a empresa gera mais renda para essa categoria, promove um processo de melhoria contínua dessas cooperativas e gera impactos ambientais positivos.

Pellets de resina plástica reciclada. Imagem: Boomera/Reprodução

Ao chegar na fábrica da Boomera, esses resíduos são transformados em resina reciclada feitas de material pós-consumo (PCR) que servem de matéria-prima para a fabricação de produtos circulares, como embalagens, pallets, utensílios domésticos e até mesmo artigos esportivos.

Sua metodologia própria, chamada de Circular Pack, permite identificar o melhor caminho para transformar esses resíduos complexos em novos produtos através de pesquisa e desenvolvimento, logística reversa e design de produtos.

Imagem: Boomera/Reprodução

A empresa que é certificada como Empresa B, desenvolve soluções há mais de uma década. Já realizaram projetos para mais de 400 empresas, mais de 500 cooperativas e 15 mil cooperados fazem parte do seu ecossistema, que já coletaram mais de 131 mil toneladas de resíduos recicláveis.

É incrível ver empresas como a Boomera com o propósito de tornar o mundo um lugar melhor.

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SOUZA, L. B. Leonardo. Empresa paulista cria soluções para cadeias produtivas se tornarem circulares. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/boomera-solucoes-cadeia-produtiva-circular.html>.

Lixões, aterros sanitários e incineradores

A concentração demográfica nas grandes cidades e o grande aumento do consumo de bens geram uma enorme quantidade de resíduos de todos os tipos. Toneladas de matérias-primas, procedentes tanto das residências como das atividades públicas e dos processos industriais, são industrializadas e consumidas gerando rejeitos e resíduos, que são comumente chamados lixo. Seria isto lixo mesmo? Lixo é basicamente todo e qualquer material descartado, proveniente das atividades humanas.

Como se percebe, o lixo é gerado em todos os lugares. E se a este for dado um destino final inadequado?

O lixo que é retirado pelos caminhões coletores da porta de nossas casas vai para algum lugar. Muitas vezes esse lugar é impróprio, isto é, o lixo é jogado numa porção de terreno, sem nenhuma preparação para evitar os danos que ele pode causar. Esses locais chamam-se depósitos clandestinos de lixo ou lixões.

Mas há também lugares onde o lixo recebe algum tipo de tratamento, seja ele incinerado ou alocado em aterros, com normas de controle.

E afinal, qual o destino para aquele saco de lixo?

Depósitos Clandestinos

São aqueles locais onde um determinado cidadão ou empresa começa a descartar seu lixo. Em poucos dias o monturo vai-se avolumando e muitos começam a jogar seus dejetos lá. Esses depósitos representam uma grave ameaça à saúde pública, devem ser combatidos e denunciados.

Imagem: Unsplash

Se você tem conhecimento de algum depósito clandestino de lixo, denuncie-o ao órgão responsável pelo controle ambiental em seu estado ou município.

Lixões

Os lixões também são depósitos de resíduos a céu aberto, sem qualquer planejamento ou medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública. No local também não há nenhum controle ou monitoramento dos resíduos depositados.

Como não há impermeabilização ou qualquer sistema de tratamento de efluentes líquidos, o chorume (líquido de cor negra característico de matéria orgânica em decomposição) penetra pela terra levando substâncias contaminantes para o solo e para os lençóis freáticos.

Lixão da Estrutural. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Além disso, atrai vetores de doenças, como germes patológicos, moscas, mosquitos, baratas e ratos. Entre as doenças que são geradas pelo acúmulo de lixo, temos: dengue, febre amarela, febre tifoide, cólera, disenteria, leptospirose, malária, esquistossomose, giardíase, peste bubônica, tétano e hepatite A.

O lixão traz ainda mais um problema: atrai a população mais carente e desempregada, que está ali para coletar matérias-primas a fim de sobreviver.

Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei 12.305/2010, previa para agosto de 2014 o fim dos lixões, mas com a sanção do novo marco do saneamento básico os prazos foram atualizados, definindo que capitais e regiões metropolitanas têm até 2 de agosto de 2021 para acabar com os lixões, enquanto cidades com mais de 100 mil habitantes têm até agosto de 2022 como prazo final. Os municípios que têm entre 50 e 100 mil habitantes terão até 2023 para eliminar o problema e as cidades com menos de 50 mil habitantes até 2024.

Incineradores

Incineradores são grandes fornos, com temperaturas que vão de 900° e pode chegar a 1250°C, onde o lixo sofre uma queima controlada por filtros, com a finalidade de evitar que os gases formados na combustão dos materiais atinjam e poluam a atmosfera.

Imagem: Freepik

O tempo de residência em que o material será incinerado, é controlado para permitir a quebra orgânica do resíduo, de modo a reduzir o volume e diminuir o risco de toxicidade do material. Assim, o volume do lixo é reduzido em até 85%, mas ainda assim há uma sobra de cinzas e dejetos (os outros 15%), que precisam necessariamente ser levados para um aterro sanitário.

Os incineradores têm alto custo de implantação, manutenção e operação e existe muita polêmica sobre a segurança dos sistemas de filtragem, pois há evidências de que mesmo pequenas falhas podem liberar gases altamente tóxicos, causadores de câncer. Os incineradores são, entretanto, a forma mais indicada de tratamento para alguns tipos de lixo, como os resíduos hospitalares e resíduos tóxicos industriais.

Aterros Controlados

O aterro controlado é uma solução intermediária entre o lixão e o aterro sanitário, e consiste em uma tentativa de transformar os lixões em aterros, minimizando os impactos ambientais associados ao acúmulo de lixo em áreas sem nenhum tipo de tratamento para efluentes líquidos e preparação do solo.

No entanto, os aterros controlados não recebem impermeabilização do solo nem sistema de dispersão de gases e de tratamento do chorume gerado. Apenas recebem uma cobertura de argila, terra e grama, que ameniza o cheiro do lixo e a consequente proliferação de insetos e animais que buscam alimentos nos lixões.

Aterros Sanitários

Aterros sanitários são a realidade que o Brasil busca ter desde a publicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos e, ainda a melhor solução para o lixo que não pode ser reaproveitado ou reciclado.

Trata-se de áreas de terreno preparados para receber o lixo, impermeabilização do solo feita em camadas e com sistema de drenagem para o chorume (líquido preto e tóxico que resulta da decomposição do lixo), que é levado para tratamento, sendo depois devolvido ao meio ambiente sem risco de contaminação, além de captação dos gases liberados, como metano, seguida da sua queima.

As construções desses aterros são pautadas em normas e critérios da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que permitem a confinação segura do lixo, em termos de controle da poluição ambiental e proteção do solo, do lençol freático, das águas superficiais e da atmosfera.

Vista geral do Aterro Sanitário da Caximba em Curitiba. Foto: Guilherme Grandi

Todos os municípios deveriam ter um aterro para deposição do seu lixo. Dependendo do volume de lixo gerado, existem aterros que podem ser implantados sem a necessidade de um grande dispêndio de recursos, sendo acessíveis a qualquer Orçamento Municipal.

Pressione o prefeito e os vereadores de sua cidade a implantarem um aterro sanitário o mais rápido possível, para armazenamento do lixo. Não aceite desculpas, como falta de recursos: o aterro sanitário é tão necessário à manutenção da saúde em seu município quanto as demais atividades do governo municipal.

A eliminação e possível reaproveitamento do lixo são um desafio ainda a ser vencido pelas sociedades modernas. Qualquer iniciativa neste sentido deverá absorver, praticar e divulgar os conceitos complementares de redução, reutilização e reciclagem.

Coleta Seletiva

Imagem: Freepik

É um processo que consiste na separação e recolhimento dos resíduos descartados por empresas e pessoas. Desta forma, os materiais que podem ser reciclados são separados do lixo orgânico (restos de carne, frutas, verduras e outros alimentos). Este último tipo de lixo é descartado em aterros sanitários ou usado para a fabricação de adubos orgânicos.

No sistema de coleta seletiva, os materiais recicláveis são separados em: papéis, plásticos, metais e vidros. Existem indústrias que reutilizam estes materiais para a fabricação de matéria-prima ou até mesmo de outros produtos.

Pilhas e baterias também são separadas, pois quando descartadas no meio ambiente provocam contaminação do solo. Embora não possam ser reutilizados, estes materiais ganham um destino apropriado para não gerarem a poluição do meio ambiente.

O lixo hospitalar também merece um tratamento especial, pois costuma estar infectado com grande quantidade de vírus e bactérias. Desta forma, é retirado dos hospitais de forma específica (com procedimentos seguros) e levado para a incineração em locais especiais.

A coleta seletiva de lixo é de extrema importância para a sociedade. Além de gerar renda para milhões de pessoas e economia para as empresa, também significa uma grande vantagem para o meio ambiente uma vez que diminui a poluição dos solos e rios. Ela também contribui significativamente para a vida útil do aterro sanitário, uma vez que a quantidade de resíduos que será descartado para o aterro é menor. Este tipo de coleta é de extrema importância para o desenvolvimento sustentável do planeta.

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SOUZA, L. B. Leonardo. Lixões, aterros sanitários e incineradores. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/lixoes-aterros-sanitarios-incineradores.html>.

Você sabe qual é a Taxa de Reciclagem de alguns resíduos que produzimos?

Por ano, são gerados no Brasil quase 80 milhões de toneladas de lixo. Deste total, 92% são coletados, mas isso não garante que todo esse material receba a destinação ambientalmente adequada, pois parte desses resíduos ainda é enviada para os lixões, impactando diretamente no meio ambiente e na saúde da população.

Dos resíduos gerados, apenas 3% são destinados à reciclagem no Brasil. O número está bem abaixo da média mundial, de 9%. Segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), cerca de 12 milhões de toneladas de resíduos sólidos acabaram descartados no meio ambiente em 2020.

Somente de plásticos são 6 milhões de toneladas. Papel ou papelão representam 4,7 milhões. Vidro (1 milhão) e alumínio (185 mil) também aparecem entre os principais materiais não reaproveitados.

A reciclagem é um dos gargalos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal 12.305/2010), que completou 11 anos. Com isso, o Brasil perde R$ 14 bilhões todos os anos com o descarte incorreto do lixo reciclável e uma oportunidade gigantesca de criar novos empregos – força de trabalho adicional que seria necessária para coletar, separar e recuperar a fração de recicláveis em todo o país.

O aumento de volume de material reciclado abriria a possibilidade de novos mercados, novos serviços e produtos. Ao fomentar a reciclagem, se reduz a demanda de matérias-primas nas indústrias, diminui o impacto ambiental de aterros e lixões e atenua a pressão pela abertura de novas áreas para este fim.

Plástico

O volume de plástico reciclado pós-consumo produzido no Brasil em 2019 foi de 838 mil toneladas, indicando um índice de reciclagem de 24%, segundo estudo comandado pela MaxiQuim, empresa de avaliação de negócios na indústria química com foco em análise de mercados e competitividade.

Imagem: Freepik

Dos diversos tipos de plásticos produzidos no Brasil, o PET é o que apresenta o maior índice de reciclagem, chegando a 51% do total produzido. No entanto, o volume de plástico produzido no Brasil é muito expressivo para o baixo índice de reciclagem deste produto: 13,5% do total de resíduos produzidos anualmente no país são de plásticos, o equivalente a 10,5 milhões de toneladas.

Vidro

Durável, inerte e podendo ser reciclado infinitas vezes, sem perder suas características e qualidades. Assim, permite-se poupar matérias-primas naturais, como areia, barrilha, calcário etc. Ao ser reciclado ele gera 90% de economia energética em relação à produção de vidro novo.

Imagem: Freepik

No entanto, menos de 50% das embalagens de vidro são recicladas no Brasil. O baixo custo de produção a partir da matéria-prima e o baixo valor agregado deste produto para os catadores e cooperativas de reciclagem, tornam o vidro um material com pouco investimento que incentivam sua reciclagem.

Papel

Segundo o Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), o índice de recuperação de papel atinge 66,9% do total de papel consumido no país passível de reciclagem, o que faz do Brasil um dos maiores recicladores de papel do mundo.

Imagem: Freepik

A reciclagem envolve uma cadeia que começa na separação, passando pela coleta, triagem e preparação do material recolhido que, em seguida, é encaminhado à indústria para que seja transformado em nova matéria-prima. Na reciclagem, há redução no consumo de energia, do uso de água e na emissão de poluentes quando comparado com o papel virgem.

Embalagens Longa Vida

A embalagem longa-vida, também chamada de cartonada ou multicamadas, é composta de camadas de papel, polietileno de baixa densidade e alumínio. Seu percentual de reciclagem, em 2020, foi de 42,7%.

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Em média, mais de 70% do material das embalagens é proveninentes de fontes renováveis, que podem ser recicladas várias vezes. Quando reaproveitados e combinada a outros polímeros podem dar origem a novos produtos como telhas ecológicas, bancos de jardim, canetas, porta-chaves, etc.

Latas de Alumínio

A cadeia de reaproveitamento de latas de alumínio no país é referência mundial. No último ano, o Brasil reciclou 31,16 bilhões de latas de alumínio que entraram no mercado, o que representa 97,4% das latinhas, segundo a Associação Brasileira do Alumínio e da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas).

Imagem: Freepik

O número é resultado de uma série de fatores como mercado de reciclagem já estabelecido em todas as regiões do país; facilidade na coleta, transporte e venda e; o alto valor da sucata de alumínio, que gera renda para milhares de famílias de catadores envolvidos.

Latas de Aço

Cerca de 47% do total das latas de aço consumidas no Brasil são recicladas. Isso representa quase 200 mil toneladas de latas de aço pós consumo retornando para o processo de fabricação de novo aço.

Imagem: Freepik

No índice geral de 47% incluem-se latas de alimentos como ervilha, milho, achocolatados, leite em pó e sardinha, tintas, massa corrida e outros produtos. Na Europa, países como Alemanha e Bélgica reciclam mais de 90% de todas as latas de aço.

Com informações: CEMPRE

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SOUZA, L. B. Leonardo. Você sabe qual é a Taxa de Reciclagem de alguns resíduos que produzimos?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/taxa-reciclagem-residuos.html>.

Sem Catadores de Materiais Recicláveis não há Reciclagem!

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Tão importantes quanto invisibilizados, essa é a realidade dos catadores e catadoras de materiais recicláveis. Por mais contraditório que essa informação possa soar, ela reflete exatamente o que ainda acontece com esses profissionais tão essenciais ao meio ambiente e à economia.

Somente em 2020 foram geradas, no Brasil, 79,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (composto por lixo doméstico e resíduos de limpeza urbana). O que significa que cada um de nós gerou, em média, 379 quilos de RSU (resíduos sólidos urbanos) em 2020. Esses são alguns dados apresentados no Panorama dos Resíduos Sólidos 2020 da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).

Reprodução: Wikimedia / Imagem: Marcello Casal Jr. – Agência Brasil

De acordo com o Anuário da Reciclagem 2020 da ANCAT (Associação Nacional de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis), as 1.829 organizações de catadores e catadoras mapeadas no país foram responsáveis pela coleta e recuperação de aproximadamente 354,7 mil toneladas de materiais recicláveis.

Os mais de 800 mil catadores e catadoras [1] de materiais recicláveis são agentes essenciais à nossa sociedade, pois são responsáveis por grande parte do que é reciclado no país, conforme informações do MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis). E vale ressaltar o protagonismo feminino na área, onde 70% da categoria é formada por mulheres. Entretanto, segundo pesquisa realizada pelo IPEA, com base nos dados do Censo 2010, constatou-se a existência de aproximadamente 388 mil catadores de materiais recicláveis em todo o território brasileiro.

Imagem: Freepik

Por isso, no Dia do Reciclador e da Reciclagem do Lixo, precisamos enfatizar a relevância desses profissionais cruciais para o funcionamento da  PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) [2] e da reciclagem [3], além de, também, destacar as várias dificuldades diárias enfrentadas na coleta dos materiais recicláveis – invisibilidade socioeconômica, insalubridade da atividade, desvalorização, discriminação e desrespeito.

Invisibilidade Socioeconômica

A invisibilidade socioeconômica caminha lado a lado com a discriminação e o desrespeito. A maioria dos catadores e catadoras exerce suas atividades na informalidade, principalmente os que trabalham de forma individual.  E estar na informalidade significa fragilidade, pois sem registro formal não há nenhuma garantia ou proteção trabalhista.

Imagine um catador de materiais recicláveis em situação informal, se esse mesmo catador por alguma razão ficar doente, ele não terá como comprar seus remédios e nem se manter financeiramente neste período. E isso, em muitos casos, significa que ele nem ao menos terá como se alimentar, já que sua renda depende exclusivamente do que consegue coletar diariamente.

Imagem: Freepik

Insalubridade da Atividade

Você já se perguntou quanto material reciclável os catadores e catadoras coletam diariamente? Você já teve a curiosidade de saber quanto peso eles transportam por dia? Pois eles podem carregar até 400 quilos em suas carroças (lembrando que a maioria das carroças tem tração humana).

Agora junto a isso, trabalhar de sol a sol, enfrentando chuva, altas ou baixas temperaturas, sem equipamentos de proteção (EPI), estando vulneráveis à contaminação por materiais biológicos e vetores de doenças. E no final ainda ser explorado, já que, a maioria dos catadores e catadoras de materiais recicláveis vende o que coletam por preços muito baixos para atravessadores. Complicado, não é mesmo?!

Desvalorização

O elo da cadeia produtiva, elementos vitais para a logística reversa, mas também a parte mais frágil desse sistema. Os catadores e catadoras de materiais recicláveis são os que na verdade realizam grande parte do retorno de embalagens à cadeia produtiva.

Sabe aquele produto feito de garrafas PETs recicladas que você comprou? Pois se não fosse o trabalho dos catadores e catadoras, dificilmente, esse produto estaria em suas mãos. Em cidades de até 100 mil habitantes, os catadores são responsáveis por 60,1% do volume total de recicláveis, de acordo com o estudo do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP).

Discriminação e Desrespeito

Quantas vezes você já viu carros impacientes buzinando para catadores com suas carroças repletas de materiais recicláveis (que aos olhos de muitos continua sendo apenas lixo)? Essa cena é bem comum em grandes centros urbanos – locais de grande geração de RSU – e em alguns casos as agressões passam de verbais e gestuais às vias de fato. Isso sem contar o grande risco de serem atropelados.

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

E o que podemos fazer? Empatia e respeito! Esse é o mínimo que podemos oferecer a esses profissionais. Reconhecer a importância da atividade de coleta de materiais recicláveis é despertar a consciência enquanto consumidores para questões ambientais, econômicas e sociais.

Pensem em quanto conhecimento e experiência catadores e catadores de recicláveis acumulam trabalhando diariamente. Eles são agentes ambientais que ajudam a reduzir a quantidade de resíduos em aterros. Eles são os que fecham o ciclo da logística reversa, encaminhando embalagens e produtos de volta ao ciclo de produção. Eles movimentam a economia e contribuem para que menos recursos naturais sejam explorados.

Referências e Sugestões de Leitura:

 

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ABREU, Nathália. Sem Catadores de Materiais Recicláveis não há Reciclagem!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/sem-catadores-de-materiais-reciclaveis-nao-ha-reciclagem.html>.

A Força da Sociedade Civil – o Balanço Positivo da COP 26

A COP26 terminou e o Brasil deixou uma marca positiva no evento. Sim, temos motivo de orgulho. A participação de vários grupos da sociedade chamou a atenção de quem estava em Glasgow. Vozes indígenas e quilombolas foram ouvidas pelo velho continente que um dia as silenciou. Elas estiveram lá para avisar que só é possível pensar um modelo de desenvolvimento sustentável, se as vivências daqueles que historicamente têm resistido forem ouvidas.

A preocupação com o aumento da temperatura da Terra é urgente para todos, mas há outros problemas decorrentes do avanço de complexos industriais que impactam comunidades locais há décadas e que ainda precisam ser levados a sério. Os planos de descarbonizar precisam incluir as mais diversas comunidades que vivem dos ambientes naturais, porque elas têm necessidades diversas. Termos como “racismo ambiental” estão sendo utilizados para explicar o processo de destruição dos povos tradicionais e quilombolas através do avanço capitalista ao longo das décadas.

Xamã da tribo Pataxó. Imagem: Freepik

A sociedade em que vivemos foi construída tendo o racismo como sistema de dominação. Consequentemente, tudo que decorre dela também é racista. Essa é a premissa do “racismo estrutural” bem definido em livro de mesmo título do Professor Silvio Almeida. Sabendo-se disso, coletivos negros e indígenas do Brasil se uniram a outros movimentos no mundo para colocar a pauta contra o racismo na mais importante mesa de tomada de decisão sobre o futuro do planeta.

A Coalizão Negra por Direitos (reunião de entidades do movimento negro de todo o país para a incidência política no Congresso Nacional e em fóruns internacionais) junto à CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e à UNEafro estiveram em diversas cidades da Europa falando sobre a urgência de se titular as terras quilombolas se quisermos atingir a meta de desmatamento zero. Quilombos e terras indígenas protegem o espaço natural e salvam as florestas, pois a relação é de simbiose e respeito.

Quilombolas da comunidade Lagoa Santa, no município de Ituberá (BA). Foto: Programa de Aceleração do Crescimento/ Flickr

As populações das águas, por exemplo, retiram dos mangues, dos rios e do mar não apenas o seu sustento, mas também o seu viver. Se as águas são poluídas pelo lixo químico lançado nelas, aquela população não perde apenas seu ganha-pão, perde a saúde e, consequentemente, a vida. Para a Coalizão,

“A crise climática também é crise humanitária. Continuar negando as estruturas do racismo é negar aos povos e às gerações humanas o direito de Bem Viver e as diversas formas de vida no Planeta Terra” [1].

Imagem: Árvore e Água/ @arvoreagua

Já são mais de 200 anos de apagamento de vários povos que são colocados dentro da categoria “outros”. Enquanto as decisões partirem apenas entre aqueles que estão na categoria “nós”, não teremos esperança de dias melhores. É preciso mudar as estruturas da sociedade para que consigamos salvar o Planeta. É urgente a luta contra o racismo ambiental. Essa foi a bandeira levantada durante as últimas semanas pela sociedade civil brasileira na Europa. Por isso, meu motivo de orgulho.

Referências e Sugestões de Leitura:

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OLIVEIRA, Tassi. A Força da Sociedade Civil – o Balanço Positivo da COP 26. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/a-forca-da-sociedade-civil-o-balanco-positivo-da-cop-26.html>.

A devastação da Caatinga e a intensificação da seca nos estados do Nordeste

Foto: José Nilton Rodrigues dos Santos/Wikimedia Commons

A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, localizado na região nordeste do país e possui cerca de 800.000 Km² de extensão. Ela se caracteriza por possuir períodos de chuvas que se concentram em poucos meses, seguidos por períodos prolongados de estiagem. Isso faz com que esse bioma apresente um clima tipicamente quente e seco na maior parte do ano, sendo caracterizado como um clima semiárido.

O que agrava mais ainda a situação da água no domínio territorial da Caatinga são os solos rasos e pedregosos que não permitem acúmulo de grandes volumes de água da chuva. Além disso, muitos dos corpos hídricos, como riachos e lagoas, não são perenes. Esse fato reflete diretamente nas espécies de plantas que habitam este bioma, que geralmente apresentam folhas, flores, frutos e sementes durante o período de chuva, e perdem todas as folhas durante o período de estiagem, daí surge o nome do bioma, do tupi: Ka’a tinga, que significa mata branca.

Imagem: Arturalveees/Wikimedia Commons

De acordo com o Instituto Chico Mendes para Conservação, o bioma Caatinga não era considerado uma região prioritária para conservação, o que fez com que ele se tornasse o segundo mais degradado dentre os biomas brasileiros, com uma perda estimada em 42,3% de sua cobertura vegetal. Porém, com a redescoberta da Caatinga, por meio de inventariação ambiental, atentou-se para a importância e riqueza de espécies presentes no bioma, que apresentam grande potencial biotecnológico e farmacológico.

Um dos fatores que torna a Caatinga tão vulnerável é o fato de que o bioma apresenta períodos pontuais de produtividade, que é justamente o período de chuva. Quando o período de seca se inicia, os componentes vegetais entram em um período de dormência, fazendo com que a produtividade do ambiente caia drasticamente.

Açude da Nação. Foto: Paulo Henrique Miranda/Autossustentável

Essa problemática reflete diretamente na dificuldade em executar projetos de recuperação de áreas degradadas na Caatinga – que já apresenta diversos pontos de desertificação – e, consequentemente, amenizar os problemas cumulativos que pioraram o quadro da seca nos estados do Nordeste.

A seca nessa região é um problema datado desde a colonização do Brasil, desde então, implementou-se diversas técnicas para mitigar essa problemática, como construção de barragens, cisternas para armazenar água da chuva, tecnologias como o bioágua, poços e equipamentos para dessalinização.

Foto: Otávio Nogueira/ Flickr

Ainda assim, essas estratégias precisam ser repensadas e reinventadas, uma vez que, devido à degradação ambiental, estes problemas vêm aumentando de forma significativa. Um exemplo disto foi a seca intensa que ocorreu no ano de 2012 e se estendeu para os anos seguintes. Na ocasião, diversas famílias que dependem da agricultura familiar, grandes produtores e criadores de gado tiveram suas produções severamente prejudicadas.

Esse acontecimento tão recente serve de lembrete para que ocorram investimentos em educação ambiental, pesquisa e elaboração projetos de recuperação de áreas degradas, principalmente no que diz respeito a matas ciliares de riachos e lagoas, proteção de nascentes, além da implementação de tecnologias para reuso e armazenagem de água.

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MIRANDA, Paulo Henrique. A devastação da Caatinga e a intensificação da seca nos estados do Nordeste. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/a-devastacao-da-caatinga-e-a-intensificacao-da-seca-nos-estados-do-nordeste.html>.

Entre o Consenso Possível e as Necessidades Urgentes, o Pequeno Avanço da COP 26

No dia 13.11.2021, a COP 26 (Conferência das Partes – a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) foi encerrada na cidade de Glasgow com aprovação de um Relatório Final por quase 200 países-membros, incluindo o Brasil.

Como é comum nesses encontros, o Acordo sobre o clima avançou em alguns pontos, mas, por outro lado, acabou se revelando mais tímido. Por exemplo, o trecho em que se incluía “a eliminação progressiva do uso sem restrições” do carvão e dos “subsídios ineficientes para os combustíveis fósseis”, no final foi alterado para “redução” por pressão de países como Índia e China. Tais questões, aliás, foram levantadas após o término da COP 26 pelo atual Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, Antônio Guterres:

“As promessas soam ocas quando a indústria dos combustíveis fósseis ainda recebe bilhões de subsídios, como foi aferido pelo FMI. Ou quando ainda há países construindo centrais de carvão; ou onde o carbono permanece sem preço, distorcendo mercados e as decisões dos investidores. Cada país, cada cidade, cada empresa, cada instituição financeira deve reduzir radicalmente, de forma crível e verificável, as emissões e descarbonizar o patrimônio a partir de agora [1]“.

Secretário-geral da ONU, António Guterres, faz discursos para delegações na COP26. Foto: UNRIC/ Miranda Alexander-Webber

Nessa mesma linha, a jovem ativista climática, Greta Thunberg, declarou em sua conta pessoal do Twitter que os resultados da COP 26 não passavam de “blábláblá” [2], ou seja, de discursos vazios e promessas pouco avançadas diante da iminência dos problemas climáticos atuais.

“As pessoas no poder continuam a viver em sua bolha cheia de fantasias, como o crescimento eterno em um planeta finito e soluções tecnológicas que aparecerão de repente do nada e apagarão todas essas crises em um piscar de olhos [3].” Greta Thunberg

A jovem ativista climática Greta Thunberg. Imagem: Wikimedia Commons

As ponderações de jovens engajados pelo clima não são novas. Em 1992, na Conferência do Rio de Janeiro, a também jovem, à época, Severn Suzuki foi considerada a menina que calou o mundo pelas declarações feitas no evento: “os governantes deveriam se preocupar ainda mais com o legado ambiental para as futuras gerações” [4].

Apesar das importantes ponderações em tom crítico, a COP 26 também teve motivos para celebração daqueles que estão preocupados com os efeitos das mudanças climáticas. Dentre estes, o mais destacado é a regulamentação de pontos bases para o mercado de carbono global. Nesse tema, Carolina Prolo enumerou os pontos sobre mercado de carbono na COP 26, dentre os quais vale ressaltar:

  • “MDL: créditos de MDL de projetos registrados em ou a partir de 2013 poderão ser utilizados apenas para cumprimento de NDCs até o ano de 2030 e não sofrem ajustes correspondentes. Serão identificados como pré-2021″.
  • “Mercado voluntário: o mecanismo do artigo 6.4 pode gerar créditos que não necessariamente sejam usados por outro país para cumprimento de sua NDC, mas para outros propósitos internacionais e domésticos. Quando usados para outros propósitos de mitigação internacional, o país hospedeiro precisa emitir uma autorização expressa e para isso se aplica ajustes correspondentes”.
  • “Repartição de lucros para Adaptação: incide 5% sobre as transações do mecanismo do artigo 6.4, destinados para o Fundo de Adaptação. Não há a mesma exigência para as transações do artigo 6.2, mas é fortemente encorajado que também se faça contribuições para o Fundo de Adaptação nesses casos.” [5]

O primeiro-ministro Boris Johnson fala com ministros envolvidos nas negociações da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26) em Glasgow. Foto: Simon Dawson / No 10 Downing Street

Entre avanços e oportunidades não aproveitadas, por conta do acordo possível, considera-se, aqui, que o resultado da COP 26 foi minimamente positivo com avanços sobre os desdobramentos do Acordo de Paris, em especial na regulamentação sobre mercado de carbono. Cabe agora aos Estados, como o Brasil, incluir de vez a agenda ambiental e climática como norteadora das políticas públicas, afim de transpor os compromissos internacionais para o campo interno, tanto das legislações como das ações práticas na proteção ao meio ambiente.

Referências e Sugestões de Leitura:

[1] BIZARRO, Teresa. Euro News. Guterres critica “promessas ocas”. Disponível em: https://pt.euronews.com/2021/11/11/guterres-critica-promessas-ocas

[2] THUNBERG, Greta. Twitter. Disponível em: https://twitter.com/GretaThunberg

[3] G1. Greta Thunberg e COP26: as duras críticas da jovem ativista à cúpula sobre mudanças climáticas. Disponível em: https://g1.globo.com/meio-ambiente/cop-26/noticia/2021/11/06/greta-thunberg-e-cop26-as-duras-criticas-da-jovem-ativista-a-cupula-sobre-mudancas-climaticas.ghtml

[4] G1. Menina que ‘calou o mundo’ na Rio 92 volta como ativista para a Rio+20. Disponível em: http://g1.globo.com/natureza/rio20/noticia/2012/06/menina-que-calou-o-mundo-na-rio-92-volta-como-ativista-para-rio20.html

[5] PROLO, Caroline Dihl. Linkedin. Resumão sobre os principais pontos do Artigo 6 do Acordo de Paris regulamentados na COP26. Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/resum%25C3%25A3o-sobre-os-principais-pontos-do-artigo-6-acordo-dihl-prolo/?trackingId=yUwHdX67Rlyp8pK2oQAUhA%3D%3D

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PIRES, Felipe. Entre o Consenso Possível e as Necessidades Urgentes, o Pequeno Avanço da COP 26. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/entre-o-consenso-possivel-e-as-necessidades-urgentes-o-pequeno-avanco-da-cop-26.html>.

Dicas para Começar uma Alimentação Saudável e Sustentável

Estabelecer uma rotina alimentar pautada em saúde e responsabilidade ambiental tem sido a busca diária de muitos. Em contrapartida, vivemos cada vez mais o cenário de insegurança alimentar.

O país tem apresentado índices elevadíssimos de fome e escassez. Para compreender tal cenário de escassez e mesmo de miséria que acomete muitas famílias, basta observar o entorno. Com a pandemia, a perda de empregos, o baixo ou nulo interesse governamental em reverter a situação de dificuldades de muitos brasileiros em manter o básico de uma alimentação, praticar uma alimentação sustentável e saudável fica ainda mais delicado e para muitos parece até impossível.

Fonte: Print de reportagem vinculada pelo portal G1 em 05/10/2021.

Quando pensamos em praticar sustentabilidade e experimentar saúde através da alimentação, é preciso ter em mente que isso só se torna realidade de fato quando todos podem ter a mesma possibilidade. Do contrário, sempre manteremos o desequilíbrio e a mesma visão limitada e dual de que alguns merecem e outros não. Essa ideia de “ter direito” à saúde e sustentabilidade não pode ser aplicada com um senso de propriedade. A aplicação prática e eficaz disso precisa nascer a partir de um “senso de humanidade”.  Pode parecer um discurso bem utópico, mas, habitamos a mesma “casa planeta” e o que acomete a um, de alguma forma, chegará ao outro.

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2 propõe acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável. Até 2030 a meta se estabelece em acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas a uma alimentação segura. Notamos que o tempo corre e está curto. Na verdade, estamos bem atrasados!  Para além de metas, precisamos de práticas e mudanças urgentes em hábitos e sistemas de produção. Precisamos de políticas públicas de fato interessadas e nutridoras. É preciso ainda uma mudança de consciência. Cada um é o todo e o todo depende da ação de cada um.

Imagem: A Economia B

Uma forma de caminhar por esse terreno da alimentação sustentável e saudável, com consciência e responsabilidade, maximizando o olhar para o todo consiste em começar na cozinha de casa, tendo a mesma como uma central de apoio. Sim! Sua cozinha se torna uma central de apoio quando os serviços que você usa e os alimentos que adquire cooperam com outras comunidades e famílias. O uso inteligente dos recursos como água e luz também entram para a conta. O compartilhar de alimentos, o senso de usar o necessário também viabiliza transformação e mudança de cenário.

Dicas práticas para a jornada de cooperação através de uma alimentação sustentável e saudável:

  1. Opte por comprar de famílias produtoras locais. Muitas cultivam orgânicos mesmo nas grandes capitais. Pesquise, busque, empodere.

    Imagem: Freepik
  2. Se for adquirir produtos industrializados, escolha empresas ambientalmente responsáveis. Entre nos sites, pesquise. Muitas até oferecem um telefone para retirada de dúvidas. Observe que tipo de ações as empresas escolhidas patrocinam e participam. Nós financiamos o cenário ambiental através do que compramos e consumimos. É preciso assumir essa co-criação.
  3. Use integralmente os alimentos! De talos a cascas e sementes.
  4. Evite desperdício! Tenha senso de medida apurado. Não deixe estragar alimentos, não compre demais e se isso ocorrer, doe. Quando desperdiçamos, vale aquela máxima da mãe e da avó “alguém não tem o que comer”. Parece clichê, mas é a dor e a vida de alguém.
  5. Não desperdice recursos como água e energia elétrica. Abra a geladeira de uma única vez, pegue seus alimentos. Apague as luzes quando não estiver no local e retire o que puder da tomada. Não adianta fazer feira orgânica se a água corre sem controle pela pia e a luz fica acesa sem que a cozinha esteja em uso. Toda a ideia de sustentabilidade “vai pelo ralo” assim.
  6. Use sacolas retornáveis para suas compras, mas preste atenção no conteúdo interno. Uma sacola bonita de pano com estampa de árvore e que contém muito plástico e alimentos de empresas nada responsáveis ambientalmente volta a ser como uma sacola plástica.

    Imagem: Freepik
  7. Compre a granel e aproveite seus potes de vidro. Esqueça os saquinhos oferecidos.
  8. Opte por uma alimentação que não cause danos, dor ou sofrimento a outras vidas. Não é segredo que o desmatamento cresce para cultivo de pastos e plantação de soja para nutrir os animais que vão para abate. Pesquise e assista documentários sobre como são feitos os abates e logo mudará a forma de ver a alimentação. Vale para a produção massiva de ovos e leite. Não há saúde. Só dor, sofrimento.
  9. Leve marmita, cozinhe e compartilhe alimentos. Essa prática, além de oferecer saúde e integração, oferece a possibilidade de praticar autonomia e organização. Se for almoçar em algum lugar, preste atenção em como esse local cuida de seus resíduos, trata seus colaboradores e se usa muitos descartáveis. Parece complicado e excessivo, mas de nada adiante a sacola sustentável, a feira orgânica, se você financia empresas que, por exemplo, descartam óleo de cozinha em algum bueiro.

    Imagem: Freepik
  10. Participe de grupos e comunidades que viabilizam alimentação para todos: se a comunidade possui um restaurante e você está próximo, vá conhecer. Vá em algum evento de doação de alimentos para ser voluntário e vá, não como máxima de caridade, mas para viver a realidade do outro e treinar empatia prática. Se não puder ir, coopere doando o que puder.

São inúmeras formas de fazer girar a saúde (que sabemos bem que não se refere apenas à ausência de doenças, mas também a como nos integramos a tudo e todos) e a sustentabilidade. Começar pelo prato, pela cozinha, pode ser o motivador de outras posturas. Que tal?

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Saiba como colocá-lo nas referências:

AMORES, Valéria. Dicas para Começar uma Alimentação Saudável e Sustentável. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/dicas-para-comecar-uma-alimentacao-saudavel-e-sustentavel.html>.

Você sabe o que é o ODS 4? Entenda a importância da Educação para Sustentabilidade

Os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) são metas que foram propostas pela ONU (Organização das Nações Unidas) como pacto entre os líderes mundiais a serem desenvolvidas até 2030 com o intuito de proteger o meio ambiente e a humanidade.

São 17 temáticas abordadas nos objetivos a serem trabalhados e o ODS 4 refere-se à educação, alertando para a importância de assegurar educação inclusiva de qualidade ao longo da vida.

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Sendo assim, podemos compreender que a educação deve ser oferecida com qualidade, acessibilidade e de forma continuada ao longo da vida a todas as pessoas, independente de questões raciais, de classe social, gênero, sexualidade, idade ou de possuírem alguma deficiência.

Entendemos a educação como peça fundamental na busca por um mundo mais justo, assim como no empenho para reverter as mudanças climáticas e danos ambientais já causados, visando desenvolver uma vida mais sustentável.

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Para tanto, as propostas do ODS 4 indicam a importância da igualdade de acesso aos estudos para meninas e meninos em todos os níveis escolares, inclusive em níveis profissionalizantes. Desta forma, as oportunidades profissionais poderiam ser mais igualitárias, ou seja, mais pessoas teriam mais conhecimentos para então, buscarem trabalhos de forma mais justa.

Cabe aqui ressaltar que não basta igualdade de conhecimentos para que as pessoas tenham oportunidades de forma justa. Além disso, é indispensável que se proporcione, no âmbito educacional, a valorização da diversidade cultural, a promoção dos direitos humanos, a igualdade racial e de gênero para uma sociedade mais justa e sustentável.

Segundo o ODS 4, a educação deve ser o instrumento para transmitir conhecimentos e, consequentemente, pode ser a porta para oportunidades profissionais. Mas, também, por meio dela devem ser propostas reflexões para o desenvolvimento de valores e mudanças práticas no dia a dia que contribuam efetivamente para melhorar os problemas ambientais e climáticos.

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Considerando tamanha responsabilidade e importância da educação para o desenvolvimento de valores de sustentabilidade, o ODS 4 ainda apresenta a necessidade de garantir instalações físicas apropriadas e adaptadas para todas as crianças, jovens e adultos, de modo que os ambientes sejam seguros, inclusivos e eficazes.

Além das questões arquitetônicas, é indispensável considerar investimento e atenção na formação de professoras e professores em todos os países, para que as propostas educacionais possam efetivamente serem trabalhadas. O ODS 4 está proposto de forma coerente com as necessidades para melhorar e atualizar aspectos educacionais e, assim, promover oportunidades e valores para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável.

Cabe refletirmos como está o trabalho para o cumprimento destes objetivos, tendo em vista que as necessidades apontadas são emergenciais e básicas para a manutenção da qualidade de vida no planeta.

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MATTARA, Bianca. Você sabe o que é o ODS 4? – Entenda a importância da Educação para Sustentabilidade. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/voce-sabe-o-que-e-o-ods-4-entenda-a-importancia-da-educacao-para-sustentabilidade.html>.