Sustentabilidade sem Inclusão? O Racismo Ambiental e a Falta de Voz das Minorias

Recentemente, publiquei um artigo falando sobre o que seria racismo ambiental, qual o conceito originário, e como ele pode ser transcrito para a realidade brasileira. Esperava que com isso expandir o debate e mostrar como até políticas públicas de desenvolvimento e de proteção ao meio ambiente são impactadas pelo racismo estrutural e institucional que macula nossa sociedade.

Contudo, o debate saiu pela culatra: a maioria dos comentários apontaram que os desafios discutidos no texto estavam relacionados a injustiças causadas por desigualdade econômica e que raça talvez não tivesse nada a ver com a discussão. Também, fui lembrada que a esquerda deveria voltar a se preocupar com classe e deixar o debate sobre identitarismo de lado por ora.

Print Site EBC (Empresa Brasil de Comunicação). Acesse a matéria neste link.

Na hora, o discurso potente e “abridor de olhos” de Mano Brown em 2018 veio à tona. Naquele momento, ele convidou o PT a “voltar para a base” e criticou o quanto o partido havia se afastado da luta social e de classe, mas não apenas isso. Ele foi além, contudo, para compreender melhor aquela fala, é preciso voltar no tempo e lembrar de como surgiu o PT.

O Partido dos Trabalhadores surge no contexto de um declínio da ditadura brasileira em que o milagre econômico mostrava que não passava de algo passageiro. Trabalhadores da indústria brasileira se uniram a diversos movimentos e construíram alianças para levar aquela insatisfação a se tornar um movimento e, eventualmente, um partido. Dentre essas alianças, temos a igreja católica, o movimento negro, o movimento feminista, o movimento LGBT, comunistas, lutas anti-repressão, sociólogos, filósofos e mais. Logo, o PT nasceu e cresceu construindo diversos grupos dentro do futuro partido que, somados, levariam o seu principal líder à presidência da república, em 2003. Para saber todos os detalhes, recomendo a leitura do livro “PT, Uma História”, de Celso Rocha de Barros.

Charge: Gilmar

Portanto, olhando para o passado, notamos que o que algumas pessoas chamam de identitarismo ou debate sobre identidades nunca esteve afastado da esquerda brasileira. Mas, me deem a chance de apresentar uma discordância. Tenho dificuldades em olhar para a luta antirracista, anti violência de gênero, anti homofobia e entendê-las como lutas por identidade (apenas).

Por exemplo, o movimento negro brasileiro, desde o começo do século XX, luta pelo direito: de participar politicamente da sociedade brasileira, pela vida de jovens negros, por melhores condições sociais, trabalho, reconhecimento e espaço nas esferas de poder. Tudo isso somado se traduz em uma luta por cidadania completa, algo que não é concebível àqueles que são considerados inimigos ou cai dentro da categoria de “outros” em sociedades racistas. 

Tirinha do Armandinho. Criador: Alexandre Beck.

Segundo Charles W. Mills, raça é uma categoria usada para estruturar e organizar as pessoas em hierarquias, sejam elas sociais, econômicas e/ou políticas, que por sua vez têm sido usadas para legitimar o colonialismo, a discriminação e violência contra esse “outro”. Sendo assim, estamos falando de poder.

Na hierarquização das raças, a raça branca exerce o poder e tem o privilégio da cidadania completa, enquanto as demais são subjugadas e relegadas à condição de inimigas da sociedade, precisando conformar ou agir de acordo com o que se espera delas – caso queiram participar daqueles espaços como cidadãos.

Print Site O Globo. Acesse a matéria neste link.

Se a raça branca é a que exerce o poder; se ser cidadão brasileiro (sujeito de direitos) é privilégio de quem é branco ou tem a pele clara, aqueles que não se encaixam nesta categoria sofrerão exclusões diversas. Incluindo as relativas ao planejamento das cidades, do meio ambiente e do acesso a mínimas condições de vida. 

Voltando à crítica apresentada por Mano Brown e que também fez muita gente refletir sobre o tal “identitarismo” da esquerda, concordo que as críticas têm fundamento. Afinal, quando a mulher trans é m#rta ou viol3ntada, ninguém pergunta quais são os pronomes que ela prefere usar. Quando o jovem negro é abordado violentamente pela polícia, eles não perguntam se o certo é “negro, pardo ou preto”. Discutir linguagem parece a perda de tempo quando existem tantos problemas maiores a serem enfrentados.

Print Rádio Senado. Acesse a matéria neste link.

Com este ponto, eu posso concordar. No entanto, me preocupo quando colocam as lutas históricas por cidadania e direitos dos grupos minoritários da nossa sociedade no mesmo balaio de debates sobre, por exemplo, o uso ou não de gênero neutro.

Entender os impactos do racismo em políticas públicas de meio ambiente é fundamental para combater injustiças relacionadas ao uso do espaço e ao impacto desproporcional de eventos climáticos extremos em populações vulneráveis, não apenas em nível local, mas em nível mundial. Essa discussão não pode ser relegada ao falso dilema do identitarismo ou perderemos mais tempo nesta luta por uma sociedade igualitária e sustentável.

Print Site G1. Acesse a matéria neste link.

A exigência por mais pessoas negras, faveladas, indígenas, quilombolas em espaços de tomada de decisão é para que elas possam construir com soluções baseadas em suas experiências, não em como a elite dominante às veem. Isso não é identitarismo; é inclusão, é representatividade, é – o que vocês pediram – dar voz às bases.

O que a Tanzânia Revela sobre a luta global por Justiça Climática

Durante minha participação no Climate Justice Camp na Tanzânia, aproveitei alguns dias para experienciar a região e conhecer uma comunidade tradicional Maasai, nos arredores de Arusha.

Fui recebida pelas mulheres do grupo que, vestidas com suas roupas típicas, entoaram cantos tradicionais em um gesto de hospitalidade, conforme a tradição local. O líder da comunidade, Ayubu Naandi, me guiou então em uma visita enquanto contava sobre a história e os modos de vida dos Maasai, um povo seminômade que se concentra na criação de gado e mantém uma forte conexão com a terra.

Livia Ribeiro junto à membros de uma comunidade Maasai em Arusha, na Tanzânia. – Foto: Livia Ribeiro

Ao fim da visita programada, sentados sob a sombra de uma árvore, Ayubu começou a compartilhar comigo os desafios recentes enfrentados pela comunidade. Nos últimos anos, as secas se tornaram mais severas e prolongadas, afetando drasticamente seu modo de vida e sobrevivência.

Quando mencionei que tinha vindo para Tanzânia para participar de um evento justamente sobre mudanças climáticas e suas consequências, fui surpreendida pela sua reação: ele nunca tinha ouvido falar sobre o assunto. Com atenção e curiosidade, me ouviu falar sobre aquecimento global, gases de efeito estufa, mudanças climáticas e suas consequências. Sua perplexidade aumentou ao descobrir que muitas pessoas, mesmo cientes do impacto de suas ações, escolhem não agir.

Líder da comunidade Maasai, Ayubu Naandi. – Foto: Livia Ribeiro

A luta por justiça climática se refere justamente a casos como esse. A comunidade Maasai, devido ao seu modo de vida, praticamente não teve contribuição nas emissões de gases de efeito estufa que resultaram nas mudanças climáticas e, mesmo assim, é exemplo de um dos grupos que mais sofrem com suas consequências.

Além disso, comunidades vulneráveis como a de Ayubu tem pouco ou nenhum apoio técnico e financeiro nas ações de adaptação por parte dos governos e, principalmente, dos grandes poluidores. Ele me contou sobre um projeto que começou com um amigo para instalar cisternas de captação de água da chuva. Porém, o projeto foi paralisado justamente por falta de recursos financeiros. A baixa capacidade adaptativa e pouco capital social são mais uma das várias camadas da injustiça climática.

Rebanho para subsistência da comunidade Maasai em Arusha, na Tanzânia. Secas já afetam o modo de vida e sobrevivência da comunidade. – Foto: Livia Ribeiro

Ayubu me pediu para voltar e compartilhar com todas as pessoas das comunidades Maasai sobre o que são as mudanças climáticas e como eles podem agir e cobrar mudanças. Entretanto, expliquei que, mesmo querendo muito voltar, não seria possível no curto prazo e sugeri que ele mesmo tivesse esse papel. Trocamos contatos, me comprometi a seguir o apoiando a entender e pensar sobre a emergência climática e ele pareceu animado.

A educação tem um papel fundamental no enfrentamento das injustiças climáticas e o primeiro passo pode ser justamente reconhecer e entender o problema. A comunidade Maasai, que por anos achou que o tempo seco era apenas um acaso, agora tem caminhos para dialogar sobre as mudanças climáticas e suas causas e para cobrar soluções.

Estamos preparados para viver mais?

O progresso da ciência trouxe consigo um desafio para a humanidade: aprender a ser um longevo. É uma grande conquista, sem dúvidas. Mas será que estamos preparados para viver até os 100 anos?

O ritmo da vida segue um roteiro a que já tínhamos acostumado. Nosso tempo de trabalho, geralmente, vai até os 60 anos (dependendo do sexo e da regra de aposentadoria), depois aposentamos e vamos descansar. Mas nem sempre é assim…

Muitos já estão vivenciando uma diferença nessa rota: continuar trabalhando, já que, o valor da aposentadoria não mantém o padrão de vida. E a tendência é que essa realidade se expanda muito mais. Até porque, como fica o senso de utilidade daquela pessoa que vai passar os “últimos anos” de vida “sem fazer nada”? Não basta viver mais, precisamos ter saúde e qualidade de vida para aproveitar o tempo extra que conquistamos.

Se vamos nos manter no mercado de trabalho por mais tempo, muitas outras variáveis aparecem. Em algumas profissões, o cabelo branco é sinônimo de experiência e credibilidade. Mas será necessário que tenhamos mais espaço de trabalho, voluntário ou remunerado, para aqueles com mais de 60 anos.

E a sustentabilidade financeira? Se vamos viver até 100 anos e aposentar por volta dos 60 anos, poupamos o suficiente durante a vida laborativa para sustentar 40 anos de inatividade?  Os planos de saúde e a previdência social precisarão adequar seus cálculos, pois manter o amparo para cidadãos por muito mais tempo terá suas implicações.

Em vários países, as aposentadorias já acontecem em idades mais avançadas (70, 75 anos). No entanto, já sabemos que dependendo da qualidade de vida, um paulista, por exemplo, pode ter uma expectativa de vida de 59 anos (em áreas mais pobres, com menos acesso à saúde preventiva) ou de 82 anos (em áreas mais abastadas) [1].

Comunidade do Moinho e prédios recém construídos em Campos Elísios, região central de São Paulo – SP. – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil.

São muitas as variáveis que são afetadas pelo aumento da longevidade. Todos teremos que nos preparar para a possibilidade de viver além do que programamos. É uma mudança de visão, pois o nosso consumo gera falta de reservas para o futuro. E o futuro será um momento de colheita dos nossos investimentos na nossa saúde física e mental, na nossa segurança financeira, no nosso roteiro de vida.

[1] Idade média ao morrer na cidade de São Paulo, segundo Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo: Itaim Bibi e Jardim Paulista são os distritos que têm o melhor indicador (82 anos). Anhanguera, no extremo da Região Norte, o pior (59 anos). A diferença entre eles é de 23 anos.

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Saiba como colocá-lo nas referências:

STEFFEN, Janaína. Estamos preparados para viver mais?. Autossustentável. Disponível em: < >.

Referências e Sugestões de Leitura:

GRATTON, Lynda; SCOTT, Andrew J. The 100-Year Life: Living and Working in an Age of Longevity. Londres: Bloomsbury Publishing, 2016.

REDE NOSSA SÃO PAULO. Idade média ao morrer em São Paulo e capitais. Mapa da Desigualdade, 2024. Disponível em: <https://www.nossasaopaulo.org.br/2024/08/20/idade-media-ao-morrer-em-sao-paulo-e-capitais/>.

TAVARES, Mariza. ‘A primeira onda foi envelhecer; a segunda é envelhecer bem’, diz economista, 2024. G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2024/05/09/a-primeira-onda-foi-envelhecer-a-segunda-e-envelhecer-bem-diz-economista.ghtml>.

Educação Infantil – A importância do contato com práticas sustentáveis desde cedo

Como você imagina que é a escola para crianças muito pequenas?

Você sabia que os bebês podem frequentar as escolas infantis? Mas, atualmente, o ensino escolar é obrigatório a partir de 4 anos de idade. A Educação Infantil é entendida como primeira etapa da Educação Básica, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB n° 9394/96) e esta etapa atende crianças de até 5 anos e 11 meses de idade.

Nosso olhar para a Educação Infantil geralmente nos leva a considerar que as crianças são muito pequenas e, por isso, a escola para esta idade terá como função cuidar e brincar.

Todavia, os profissionais de educação (professoras, professores, educadores e educadoras) desta fase, têm o grande compromisso de cuidar concomitantemente a ensinar, uma vez que, esta etapa é de muita importância para o amplo desenvolvimento infantil. Isso porque é nessa fase que devem ser trabalhadas e estimuladas habilidades indispensáveis para as próximas etapas escolares, como: concentração, atenção, comunicação, coordenação, lateralidade, criatividade, interesse, comportamento leitor, socialização e autoconhecimento.

Todo o trabalho desenvolvido na Educação Infantil é, assim, pensado e planejado com temas e direcionamentos curriculares segundo documentos nacionais, estaduais e até municipais. Tais documentos devem conduzir os conhecimentos imprescindíveis à esta idade, que serão adaptados aos contextos, especificidades e necessidades regionais, sociais e culturais, incluindo a consciência ambiental.

Sendo assim, na escola, as crianças serão cuidadas, mas estarão em processo de ensino e aprendizagem desde muito cedo. Claro que, considerando sua idade, de forma lúdica e interessante.

Na Educação Infantil as crianças brincam, cantam, interagem socialmente, aprendem a se comunicar, a dividir, conhecer a si e ao outro, ouvem histórias, observam a natureza, criam, iniciam contato com letras e números, com desenhos, pinturas, habilidades manuais e artísticas propiciando, portanto, muitas habilidades essenciais ao seu desenvolvimento.

O trabalho das educadoras e educadores é planejado e direcionado, mas seu diferencial é o encanto que a Educação Infantil possui com a novidade, pois tudo que é apresentado para as crianças dessa etapa, é novo, é interessante, faz os olhos brilharem e pode ser divertido. Por isso, há muita responsabilidade e importância quanto ao que será ensinado e como será feito, pois são sementes sendo plantadas para florirem adiante.

As crianças se interessam em observar a beleza de uma flor, se encantam ao tocar e sentir a diferente textura do tronco de uma árvore, podem observar passarinhos por um bom tempo, gostam muito de olhar, ouvir, cheirar as plantas, animais e objetos, olhar para o céu e perceber a cor, as nuvens, o vento, a chuva.

Por vezes, podem até não compreender que essa beleza exige cuidados e delicadeza, e que não devemos puxar, arrancar ou agredir. No entanto, fica simples ensinar, quando percebem que, apesar de quererem tocar, e levar junto de si as pequenas lembranças, essas atitudes prejudicam toda a beleza da natureza. Assim, logo compreendem a importância dos cuidados que devemos ter com a natureza, e esse cuidado será pouco a pouco ampliado para âmbitos maiores de práticas sustentáveis.

Neste sentido, cada temática que é trabalhada nesse período deve ser trazida de forma delicada e coerente à idade. É justamente nesse período que podemos criar importantes valores e práticas, inclusive quanto às questões de consciência ambiental e de sustentabilidade.

Esses valores e práticas podem (e devem) ser enraizadas dentro e fora do ambiente escolar repercutindo na formação de pessoas conscientes sobre a realidade ambiental. Dessa forma a adoção de práticas sustentáveis no cotidiano se tornará mais natural, a ponto dessas crianças se tornarem profissionais que se preocupem e levem essa consciência e valores para as grandes empresas. O que, de fato, fará significativa diferença para as questões ambientais – que estão necessitando de imensa atenção em nossas vidas.

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Saiba como colocá-lo nas referências:

MATTARA, Bianca. Educação Infantil – A importância do contato com práticas sustentáveis desde cedo. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2024/10/educacao-infantil-a-importancia-do-contato-com-praticas-sustentaveis-desde-cedo.html>.

Referência e Sugestão de Leitura:

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 23 dez. 1996.

Microplásticos: o grande micro-vilão da saúde e do planeta

Todos nós sabemos o que são os plásticos e convivemos com eles diariamente. Uma das invenções mais importantes do século XX, o plástico revolucionou o mundo e substituiu materiais tradicionais por serem mais baratos, higiênicos e fáceis de fabricar.  Com o passar do tempo, a fabricação dos plásticos cresceu imensamente (assim como o seu descarte) e fomos aos poucos descobrindo as consequências que viriam.

Os microplásticos são pedaços muito pequenos de plástico, com medidas menores que 5 milímetros – que podem, inclusive, ser menores que a espessura de um fio de cabelo. Sua origem é variada: grande parte vem da indústria têxtil, da decomposição dos plásticos (em lixões, no desgaste durante o uso e no descarte em locais incorretos), dos plásticos granulados (pellets), do uso em produtos de higiene pessoal (pastas de dente, esfoliantes, etc.) e, pasme, da abrasão dos pneus automotivos.

Na imagem podemos observar vestígios de plástico e microplásticos.

O problema é que, apesar da grande quantidade desses microplásticos, seu tamanho torna super difícil capturá-los. E eles estão em todos os lugares: na água que bebemos, na comida e no próprio ar. Atualmente, estima-se que cada pessoa ingere 5 gramas de plástico por semana. Isso equivale a um cartão de crédito!

Além disso, existem diversos estudos que mostram que existem microplásticos nos nossos corpos. Já foram identificadas partículas de microplásticos no sangue, fezes, pulmões e até mesmo na placenta. Estamos sendo expostos ao plástico mesmo antes de nascer. Mas quais são as consequências disso?

O problema ainda é muito “jovem” e as primeiras pesquisas sobre possíveis danos causados ​​pelo plástico começaram quando biólogos que estudam dieta de aves marinhas identificaram porções de plástico em seus estômagos, há cerca de 40 anos. E a partir disso muito já se foi pesquisado, mas ainda há muito mais a se descobrir.

Um estudo feito em pintinhos no Japão sugere que talvez o plástico não seja tão ruim como espera-se. Apesar de algum atraso no crescimento e pequenos problemas no sistema endócrino, os testes não mostraram nada grave em questões de mortalidade, morbidade e de reprodução. Contudo, estudos com seres humanos ainda não são conclusivos e os pesquisadores dizem ainda não ser possível responder à questão de qual é o impacto do plástico para os seres humanos de maneira definitiva. Deve-se andar com cautela.

Para já, a melhor opção é procurar opções para substituir o plástico: Evitar o uso de descartáveis, utilizar potes de vidro (principalmente se para aquecer alimentos e bebidas), recusar o consumo de cosméticos com esfoliantes sintéticos e roupas de fibra sintética, optar por produtos reutilizáveis e tecidos de fibra natural, descartar corretamente o seu lixo e sempre reduzir o consumo, reutilizar o que é possível e reciclar o descarte! 

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MOSS, Luana. Microplásticos: o grande micro-vilão da saúde e do planeta. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2024/10/microplasticos-o-grande-micro-vilao-da-saude-e-do-planeta.html>.

Referências e Sugestões de Leitura:

PARKER, Laura. Microplásticos estão em nossos corpos. Quanto eles nos prejudicam?, 2022.NATIONAL GEOGRAPHIC. Disponível em: <https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2022/04/microplasticos-estao-em-nossos-corpos-quanto-eles-nos-prejudicam>.

RAGUSA, Antonio et al. Plasticenta: First evidence of microplastics in human placenta, 2021. Environment International – Editora Elsevier. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0160412020322297>.

ROMAN, Laura et al. Is plastic ingestion in birds as toxic as we think? Insights from a plastic feeding experiment, 2019. National Library of Medicine. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30776638/>.

WWF. Could you be eating a credit card a week?, 2019. Disponível em: <https://wwf.panda.org/?348371/Could-you-be-eating-a-credit-card-a-week>.

Qual a importância da Iniciativa Privada na Conservação da Natureza no Brasil?

Muito se fala, quando a pauta ambiental está em debate, sobre ações e iniciativas do Poder Público na preservação e conservação da natureza no Brasil. De fato, prefeituras, estados e a União têm papel fundamental na manutenção dos processos ecológicos em nosso país, por meio de seus órgãos e instituições, como as secretarias de meio ambiente, institutos florestais, IBAMA e ICMBIO. O que é pouco comentado é o papel das pessoas no âmbito individual ou do setor privado nesse processo e é isso que será discutido nas próximas linhas.

De acordo com o Painel Nacional das Unidades de Conservação no Brasil (Ministério do Meio Ambiente, 2023), o Brasil conta com aproximadamente 953 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), que são uma categoria de Unidade de conservação (UC) de Uso Sustentável de caráter privado, que existe única e exclusivamente em função do desejo de seu(s) proprietário(s). Nem sempre estão associadas a uma intenção altruísta em prol da natureza (pode ser fruto de um processo de compensação ambiental, por exemplo), porém o resultado é o mesmo.

São áreas de sítios, chácaras e propriedades rurais (ou mesmo urbanas) mantidas para plantas e animais viverem em segurança. As áreas particulares, dessa forma, correspondem a quase 40% das UCs do Brasil, embora a área territorial abrangida seja muito pouco representativa (5827,45 km² ou 0,36% da área protegida total) em função das pequenas dimensões de cada propriedade.

Reserva Particular do Patrimônio Natural Mutinga está inserida numa área de Zona Especial de Proteção Ambiental (ZEPAM) na cidade de São Paulo – SP. / Foto: Joca Duarte/ Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente da cidade de São Paulo.

No entanto, o uso deste último argumento apresentado como forma de depreciar a importância do setor privado não é eficiente, uma vez que são os indivíduos, em última instância, os responsáveis pela conservação da natureza. As leis, sem o aval social, não garantem proteção e essa grande quantidade de pessoas dispostas a contribuir com o meio ambiente, no âmbito de suas pequenas propriedades, revela um avanço da mentalidade conservacionista, que dá suporte a ações coletivas, como a manutenção de uma UC.

Alguns podem argumentar que as áreas protegidas só existem por causa de uma lei específica. É verdade, porém a lei pode deixar de existir no futuro (que, no contexto de uma UC, trata-se da desafetação de uma unidade), caso não haja um movimento popular que utilize a área e pressione os órgãos competentes para sua conservação e manutenção. A lei está inserida dentro de um contexto social impossível de ser desconsiderado.

Outra área protegida que depende, em grande parte, da boa vontade da população para ser mantida são as Reservas Legais, áreas de vegetação nativa não associadas às UC dentro das propriedades particulares. O Estado brasileiro não tem condições de fiscalizar todas as propriedades rurais presentes no país, de forma que a espontânea e livre noção da importância das áreas verdes tem grande impacto na manutenção dessas áreas.

Castanheira na reserva legal comunitária do assentamento Vale do Amanhecer. / Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

Apesar dos necessários esforços que servidores e entidades públicas têm com relação ao meio ambiente, eles pouco resolvem se não vierem acompanhados de um massivo processo de educação ambiental com as pessoas, enquanto indivíduos e empresas. É a iniciativa privada que garante os alicerces de um país que respeita as outras formas de vida, seja animal ou vegetal. E, nessa perspectiva, as escolas e universidades são fundamentais.

Atualmente, com a popularização do acesso aos computadores e à internet, diversas iniciativas particulares, desvinculadas de partidos políticos e de entidades públicas, surgem e são divulgadas como uma tentativa de colaborar para um ambiente mais saudável e sustentável. Em Belo Horizonte, existe uma RPPN chamada Minas Tênis Clube, mantida pela empresa homônima, além de várias RPE (Reservas Particulares Ecológicas) que, juntas, somam 55 hectares de vegetação protegida em plena área urbana do município. Também é digno de nota iniciativas voluntárias como o projeto “Pomar BH”, que planta árvores frutíferas pela cidade, e a própria Autossustentável, que exerce uma influência nacional em prol de uma educação para a sustentabilidade.

Espera-se que esses passos dados pela sociedade civil sejam sólidos o suficiente para sustentar ações em grande escala, que envolvam governos e grandes empresas, em benefício da manutenção dos ecossistemas, passo importante no enfrentamento às mudanças climáticas, que é uma das grandes ameaças a nossa espécie.

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Saiba como colocá-lo nas referências:

PAIVA, Leonardo. Qual a importância da Iniciativa Privada na Conservação da Natureza no Brasil?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2024/10/qual-a-importancia-da-iniciativa-privada-na-conservacao-da-natureza-no-brasil.html>.

Referências e Sugestões de Leitura:

BRASIL. Áreas Protegidas. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Disponível em: <https://antigo.mma.gov.br/areas-protegidas.html>. 

BRASIL. Painel Unidades de Conservação Brasileira. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Disponível em: <https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMDNmZTA5Y2ItNmFkMy00Njk2LWI4YjYtZDJlNzFkOGM5NWQ4IiwidCI6IjJiMjY2ZmE5LTNmOTMtNGJiMS05ODMwLTYzNDY3NTJmMDNlNCIsImMiOjF9>.

PORTAL MEIO AMBIENTE. Reserva Legal. IEF (Instituto Estadual de Florestas). Disponível em: <http://www.ief.mg.gov.br/component/content/article/3306-nova-categoria/3243–reserva-legal>.

Iniciativa transforma a Qualidade de Vida na Bahia com Preservação Ambiental!

Dessa vez não vou escrever sobre conceitos técnicos, mas sim sobre um projeto que conheci pessoalmente e que vem aliando ações socioambientais às práticas esportivas.

Longe das grandes capitais do país, o Ecocidadão Instituto está sediado no Oeste Baiano, mais precisamente em Luís Eduardo Magalhães (BA), município onde seu idealizador Aparecido Rodrigues da Silva, decidiu colocar em prática sua missão de vida: “sensibilizar a sociedade civil sobre a importância da preservação ambiental, bem como da qualidade de vida associada às práticas esportivas que promovam saúde e bem-estar.

Equipe Ecocidadão Instituto, formada por: Valéria Coutinho Cerqueira Lima (Diretora Administrativa e Financeira), Aparecido Rodrigues da Silva (Diretor Geral) e Mônica Coutinho (Socióloga e Consultora). Foto: Equipe Ecocidadão Instituto.

O Ecocidadão é um projeto que foi iniciado há poucos anos e, nos dias de hoje, atua como Organização da Sociedade Civil (OSC). Por definição as OSC’s, também conhecidas como ONGs (Organização Não-Governamental), são “entidades nascidas da livre organização e da participação social da população que desenvolvem ações de interesse público sem visarem ao lucro[1], ou seja, entidades do Terceiro Setor que atuam fortemente para o fomento da igualdade de gênero, direitos humanos e proteção ambiental [2]

O objetivo do Ecocidadão Instituto é simples: introduzir práticas que evidenciem a união da preservação da natureza, o altruísmo e o bem-estar físico e mental à sociedade civil e sensibilizá-los, de modo que, ao participar e cumprir as práticas, as pessoas sintam-se bem e pertencentes àquele local. As práticas são de diferentes vertentes, mas possuem o mesmo denominador, a escolha de hábitos mais saudáveis e sustentáveis no dia-a-dia.

Ação de limpeza do entorno do Rio Cabeceira de Pedras, em Luís Eduardo Magalhães (BA). Foto: Equipe Ecocidadão Instituto.

Divididos em seis projetos cuja implantação é de curto, médio e longo prazo, o Aparecido compartilhou suas ideias com profissionais das Áreas Sociais, Administrativa e da Saúde e juntos denominaram de Ecosaúde, Ecoleveza, Ecoprodutos, Ecotrilha, Ecoviveiros e Ecoville. Periodicamente são realizadas ações respectivas a um projeto. 

Já foram desenvolvidas ações de limpeza no entorno do Rio Cabeceira de Pedras; um grande evento que promoveu uma palestra e “aulão” sobre a prática da corrida de rua; arrecadação e doação de alimentos para um instituto local; doação e plantio de mudas nativas do Cerrado; Práticas Integrativas Complementares (PICs) – reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde na promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida. Recentemente, o Instituto realizou a entrega de pares de tênis infantis para as crianças de uma instituição local, a fim de incentivá-los à prática de esportes.

Tiago Mecabo, Treinador Especialista Em Corrida De Rua, ministrando palestra no I Evento Esportivo realizado em Julho/2023. Foto: Equipe Ecocidadão Instituto.

Em uma reunião com a equipe, explicaram que há muitas outras ações sendo elaboradas, mas é um “trabalho de formiguinha”, pois se formalizaram como OSC recentemente e por terem algumas dificuldades na captação de recursos, encontraram alternativas como os Ecoprodutos, cuja venda é destinada à execução das ações.

“Aulão” sobre Corrida de Rua seguida do plantio de mudas, realizados na Praça do Avião, em Luís Eduardo Magalhães (BA). Foto: Equipe Ecocidadão Instituto.

Semanalmente, há treinos de corrida de rua, sob orientação de profissional qualificado. Quem tem interesse em participar é sempre acolhido com respeito e entusiasmo. Por ter vivenciado isso, afirmo que é admirável a perseverança e a disciplina em estimular a melhoria da qualidade de vida e conscientização ambiental para a população local, basta estar disposto e que faça sentido para si.

Para conhecer mais sobre o Ecocidadão Instituto, acesse o perfil deles no Instagram: @ecocidadaoinstituto.

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Saiba como colocá-lo nas referências:

ARTIJA, Maria Vitória. Iniciativa transforma a Qualidade de Vida na Bahia com Preservação Ambiental!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2024/10/iniciativa-transforma-a-qualidade-de-vida-na-bahia-com-preservacao-ambiental.html>.

Referências e Sugestões de Leitura:

[1] IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Mapa das Organizações da Sociedade Civil. Disponível em: <https://mapaosc.ipea.gov.br/glossario>.

[2] LAZZAROTTO, Aline. O poder de transformação do terceiro setor: conheça as melhores ONGs do Brasil, 2017. AUTOSSUSTENTÁVEL. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2017/08/melhores-ongs-brasil.html>.

Você sabe o que são Biomateriais? Conheça o couro de cacto!

Couro de cacto, uma inovação sustentável na Moda!

A indústria da moda enfrenta um de seus maiores desafios: reduzir o impacto ambiental sem esquecer a inovação e a estética. Cada vez mais, o consumidor se torna consciente dos efeitos das suas escolhas e busca por novas alternativas, e neste sentido, os biomateriais se mostram promissores.

Um exemplo disso é o couro de cacto, criado pela startup mexicana Desserto® e que já está no mercado através de parcerias com grandes marcas. Neste artigo, vamos explorar o processo de produção do couro de cacto, comparar seus impactos ambientais com o couro tradicional e refletir sobre como os biomateriais podem moldar o futuro da moda [1].

Foto: Divulgação Desserto®

O impacto ambiental do couro tradicional

O couro tradicional, produzido a partir de peles de gado, é sinônimo de luxo e durabilidade há séculos. No entanto, sua produção envolve uma série de práticas que afetam gravemente o meio ambiente. A pecuária, associada à produção de couro, está entre as principais causas do desmatamento, especialmente na Amazônia, onde vastas áreas de floresta são desmatadas para abrir espaço para o pasto. Estima-se que cerca de 450.000 Km² da Amazônia foram transformados em pastagem, contribuindo significativamente para a perda da biodiversidade [2].

Além do desmatamento, o processo de curtimento do couro tradicional envolve produtos químicos altamente poluentes, como o cromo – utilizado em cerca de 80% da produção mundial de couro. Esse processo gera resíduos tóxicos que contaminam o solo e os cursos d’água, além de representar sérios riscos à saúde dos trabalhadores e das comunidades locais [3]. Mesmo em curtumes modernos, ainda é difícil evitar a emissão de efluentes e o descarte inadequado de resíduos [3].

A inovação do couro de cacto

Desenvolvido pela startup mexicana Desserto®, o couro de cacto é uma alternativa que busca minimizar esses impactos. Produzido a partir do cacto nopal, seu cultivo não requer sistemas de irrigação artificial, utilizando apenas a água da chuva, o que gera uma economia de até 80% de água em comparação com culturas agrícolas comuns [4].

Foto: Divulgação Desserto®

Além de economizar água, o processo de produção também é significativamente menos agressivo. Após a colheita, as folhas de cacto são secas naturalmente ao sol por três dias, sem a necessidade de energia adicional. O material orgânico é então processado sem o uso de produtos químicos tóxicos, ou seja, livre de pesticidas ou fertilizantes artificiais, resultando em um couro flexível, durável e parcialmente biodegradável [4].

Assista ao processo de produção do couro de cacto da Desserto®

Impacto Ambiental: Couro Tradicional x Couro de Cacto

Tabela criada pela autora, Kathelyn Nunes

Outros biomateriais sustentáveis no mercado

Além do couro de cacto, outros biomateriais estão emergindo como alternativas viáveis na moda. O Piñatex®, produzido a partir das fibras de abacaxi, já é utilizado por marcas como Hugo Boss e H&M [5]. Outro exemplo é o Malai, um biomaterial feito de celulose bacteriana cultivada em resíduos de coco. Esses materiais não apenas substituem o couro, mas também promovem o reaproveitamento de resíduos agrícolas, contribuindo para a economia circular [5].

Foto: Divulgação Piñatex®

É importante ressaltar que, embora esses materiais ofereçam inúmeros benefícios ambientais, um dos desafios atuais é o custo de produção. O desenvolvimento de biomateriais ainda exige investimentos significativos em pesquisa e tecnologia, o que pode elevar o custo final destes produtos [5].

À medida que a demanda por materiais mais sustentáveis cresce, espera-se que os custos de produção de biomateriais, como o couro de cacto, diminuam. A economia de escala e os avanços tecnológicos devem tornar o produto mais competitivo em termos de preço e mais acessível ao consumidor [4].

O futuro da moda sustentável

O uso de biomateriais contribui diretamente para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), particularmente nos objetivos relacionados ao consumo e produção responsáveis (ODS 12) e à ação climática (ODS 13) [6]. Ao adotar essas alternativas, a indústria da moda pode reduzir sua pegada de carbono, economizar recursos naturais e promover a economia circular [6].

Como o custo de produção desses biomateriais ainda é alto, o valor dos produtos feitos a partir deles ainda é pouco acessível.

À medida que a pressão por práticas mais sustentáveis aumenta, biomateriais como o couro de cacto surgem como soluções viáveis para mitigar os impactos ambientais da indústria. Marcas nacionais como Mondepars já estão utilizando este material em suas coleções, demonstrando que é possível combinar estilo e sustentabilidade [4].

No entanto, para que esses materiais se tornem mais acessíveis, é necessário um esforço conjunto entre governos, empresas e consumidores. A inovação em biomateriais oferece uma oportunidade única para a indústria da moda contribuir diretamente para a redução de sua pegada de carbono e o cumprimento das metas da Agenda 2030 [6].

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Saiba como colocá-lo nas referências:

NUNES, Kathelyn. Você sabe o que são Biomateriais? Conheça o couro de cacto!. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2024/10/voce-sabe-o-que-sao-biomateriais-conheca-o-couro-de-cacto.html>.

Referências e Sugestões de Leitura:

[1] Desserto®. Sustainable Textiles from Unconventional Biomaterials – Cactus Based. Eng. Proc., 2023, 37, 58. Disponível em: <https://doi.org/10.3390/ECP2023-14652>.

[2] PACCE, Lilian. Você prefere uma jaqueta de cacto ou de maçã? As grifes e os novos biomateriais!. Lilian Pacce, 2021. Disponível em: <https://www.lilianpacce.com.br/e-mais/reciclese/voce-prefere-uma-jaqueta-de-cacto-ou-de-maca-as-grifes-e-os-novos-biomateriais/>.

[3] WILLIAMS, Sydney. Sustainable Leather Alternatives: A Comparison of Cactus Leather Mechanical Properties. California State Polytechnic University, 2022. Disponível em: <https://www.mdpi.com/journal/engproc>.

[4] Desserto®. Desserto: A Sustainable and Innovative Alternative. Disponível em: <https://desserto.com.mx>.

[5] GONZALES, Jenny. Moda sustentável: a revolução dos biomateriais que estão substituindo couros e peles. Mongabay Brasil, 2022. Disponível em: <https://brasil.mongabay.com/2022/05/moda-sustentavel-revolucao-dos-biomateriais-que-estao-substituindo-couros-e-peles/>.

[6] ELLEN MACARTHUR FOUNDATION. A New Textiles Economy: Redesigning Fashion’s Future. 2017. Disponível em: <https://www.ellenmacarthurfoundation.org/publications/a-new-textiles-economy-redesigning-fashions-future>.

5 Hábitos Insustentáveis para o Futuro da Vida na Terra

À medida que os desastres ambientais se tornam mais evidentes, também ganham destaque os principais hábitos insustentáveis para o futuro da vida na Terra.

Em outras palavras, caso o ser humano pretenda continuar habitando o Planeta Azul, é cada vez mais urgente que alguns comportamentos considerados “normais” sejam mudados.

Nesse sentido, conscientizar a sociedade sobre o impacto das pequenas ações individuais e o quanto elas podem repercutir globalmente é uma missão desafiadora! Mas, que precisa ser cumprida.

Com esse propósito, no artigo de hoje, vamos apresentar 5 hábitos que ameaçam a vida humana na Terra, buscando estimular reflexões e incentivar medidas transformadoras, capazes de romper com práticas arraigadas e aumentar as chances de construir um futuro menos hostil.

Acompanhe!

1. Uso Excessivo de Plástico

A onipresença do plástico descartável tornou-se um flagelo ambiental, ameaçando a existência de ecossistemas inteiros.

De acordo com um relatório publicado em 2021 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), 11 milhões de toneladas de plástico são descartadas em nossos mares a cada ano.

Os oceanos têm se transformado em verdadeiros depósitos de detritos plastificados, fazendo com que peixes, tartarugas e outros animais confundam partículas plásticas com alimentos.

Foto: xNeech/Reddit

Além disso, o plástico se decompõe em micropartículas — chamadas de microplásticos — que entram na cadeia alimentar carregando compostos químicos e causam danos preocupantes à saúde dos seres humanos.

Vale mencionar ainda, a relação direta entre a extração de petróleo e a produção de plástico, demonstrando que é imprescindível reduzir a dependência de recursos fósseis e investir em alternativas renováveis.

Mudar as atitudes diárias — como optar por sacolas, copos, canudos e garrafas reutilizáveis e duráveis — é vital. Até porque, se não tiver quem consuma copinho, garfinho, pratinho e tantos outros “inhos” plásticos… quem vai querer produzi-los, não é mesmo?

2. Alimentação Baseada em Carne

A forma como escolhemos nos alimentar também impacta diretamente na nossa pegada ambiental.  Sabendo disso, não resta dúvidas de que o consumo de carne é outra grande ameaça para o futuro do Planeta!

Isso se deve, principalmente, aos elevados índices de gases de efeito estufa (GEE) emitidos nesses processos. Desde a criação dos animais até o transporte da carne, grandes quantidades de GEE são liberadas, contribuindo para o aquecimento global.

Como se não bastasse, a expansão da pecuária tem sido uma das principais causas do desmatamento, realizado no intuito de criar pastagens e plantações de ração animal.

Logo, é fundamental reduzir o consumo de carne e adotar uma dieta rica em alimentos como leguminosas, grãos integrais, frutas e vegetais, que oferecem todos os nutrientes e proteínas que o corpo humano necessita, mas sem causar os mesmos danos ambientais.

De acordo com estudos, se o mundo fosse vegetariano, talvez não houvesse tanta fome, pois os rebanhos consomem boa parte dos recursos naturais. Uma vaca, por exemplo, em um um único gole, bebe até 2 litros de água. Em um dia, consome até 100 litros. São 43. 000 litros de água para produzir 1 kg de carne!

3. Desperdício de Recursos Hídricos

E por falar em água, o desperdício deste recurso é outra enorme preocupação quando falamos sobre o futuro da vida na Terra. Afinal, em muitas partes do mundo, a escassez já é uma realidade.

Além disso, a contaminação da água por poluentes agrícolas e industriais ameaça a qualidade do líquido potável e prejudica a saúde das comunidades.

Para combater esse problema, precisamos adotar práticas mais eficientes de uso da água, como consertar imediatamente vazamentos residenciais e coletar o volume que vem das chuvas para reutilização.

Também é urgente implementar tecnologias em larga escala — como sistemas de irrigação sustentáveis na agricultura e jardins de chuva nas cidades — e frear a produção das grandes empresas, o que só é possível, diga-se de passagem, reduzindo o consumismo.

4. Utilização de Automóvel Individual

Outro hábito insustentável é a dependência de carros particulares como principal meio de locomoção.

A poluição do ar resultante da queima de combustíveis fósseis em veículos é uma das principais fontes de emissões de GEE e partículas nocivas, afetando diretamente a saúde das pessoas e, é claro, o meio ambiente.

Em adição, os congestionamentos contribuem para o desperdício de tempo, aumento do estresse e da pegada de carbono. Isso sem citar o óbvio: a malha viária não pode ser ampliada indefinidamente.

Em 2017, os automóveis ocupavam cerca de 80% desse espaço e os ônibus apenas 6%. Simplificadamente, os carros utilizavam uma frota 250 vezes maior para transportar um número de pessoas 27 vezes menor em relação ao transporte público coletivo.

Por isso, é urgente investir em ônibus e metrôs de qualidade, ciclovias e calçadas seguras e outras medidas — como descontos nas tarifas, áreas urbanas exclusivas para pedestres e políticas de pedágio urbano — que incentivem as pessoas a dispensarem o veículo individual.

5. Consumo Desenfreado

Por fim, o quinto e último hábito insustentável para o futuro da vida na Terra diz respeito ao consumismo, caracterizado pela busca constante e/ou desnecessária por novos produtos.

A extração excessiva de recursos naturais, a produção em grande escala e o descarte inadequado de resíduos contribuem para a degradação dos ecossistemas.

Sendo assim, repensar a nossa relação com a compra é, sem dúvida, a chave para reverter essa tendência, visando adotar o consumo consciente. Valorizar produtos duráveis e optar pela qualidade em vez da quantidade são passos importantes na redução do impacto ambiental.

E apesar de atitudes como a reutilização e a reciclagem serem absolutamente importantes, a melhor medida ainda é e continuará sendo não consumir aquilo que não precisa. Ou seja, sempre que puder evitar a compra, evite!

Quer mudar o mundo? Mude a si mesmo(a)!

Se você chegou até aqui, certamente está claro que muitos comportamentos precisam, o quanto antes, mudar, certo? E talvez esteja passando na sua cabeça agora: “ah, mas sozinho eu não vou mudar o mundo!”.

Realmente, não vai! Entretanto, todas as nossas atitudes, por menores que sejam, impactam o meio ambiente a curto, médio ou longo prazo e, por isso, somos responsáveis pelas práticas que decidimos adotar. Além, é claro, de unir forças para cobrar medidas dos setores público e privado.

Então, que tal refletir sobre seus próprios hábitos e considerar ajustá-los, dentro das suas próprias possibilidades, a fim de aumentar nossas chances de ter um futuro viável por aqui, hein?

 

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Saiba como colocá-lo nas referências:

SILVA, Pâmela. 5 Hábitos Insustentáveis para o Futuro da Vida na Terra. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2024/10/5-habitos-insustentaveis-para-o-futuro-da-vida-na-terra.html>.

Referências e Sugestões de Leitura:

BURGIERMAN, Denis Russo. Deveríamos parar de comer carne?, 2020. SUPERINTERESSANTE. Disponível em: <https://super.abril.com.br/ciencia/deveriamos-parar-de-comer-carne>.

NATIONAL GEOGRAPHIC. A rota do plástico: do lixo aos ecossistemas marinhos, 2022. Disponível em: <https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2022/04/a-rota-do-plastico-do-lixo-aos-ecossistemas-marinhos>.

SILVA, Pâmela. Qual prioridade o Brasil (não) dá à Mobilidade Urbana Sustentável?, 2021. AUTOSSUSTENTÁVEL. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/qual-prioridade-o-brasil-nao-da-a-mobilidade-urbana-sustentavel.html>.

SILVA, Pâmela. Qual sabor a carne tem para a saúde e o meio ambiente?, 2020. AUTOSSUSTENTÁVEL. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/11/qual-sabor-a-carne-tem-para-a-saude-e-o-meio-ambiente.html>.

O que é racismo ambiental mesmo?

Recentemente, ouvi que o conceito de racismo ambiental não fazia sentido. De acordo com meu interlocutor, se as políticas ambientais afetam a todos da mesma forma indiscriminadamente, como poderíamos falar em racismo ambiental? Há meses penso neste questionamento, então resolvi escrever um pouco sobre isso. É possível realmente se falar em racismo ambiental?

Eu precisei voltar ao conceito original. Benjamin F. Chavis Jr. disse, no livro organizado por ele e chamado “Confrontando racismo ambiental: vozes dos movimentos sociais” [1], que

“racismo ambiental é discriminação racial no processo de produção de políticas públicas ambientais.”

Trabalho de resgate às vítimas do soterramento no Morro do Bumba em Niterói-RJ no ano de 2010. – Foto: Vladimir Platonow / Agência Brasil

Então, a discriminação ocorre no momento da elaboração das regras que vão definir, por exemplo, onde um aterro sanitário estará; se serão plantadas árvores nas ruas ou não; se o bairro será planejado ou foi organicamente criado pela população, sem fiscalização; onde um polo industrial vai estar localizado (perto de uma comunidade quilombola ou perto de uma área residencial de classe alta), e mais.

Para compreender essa lógica, é preciso ter pelo menos dois pontos como premissa:

1. Discriminação racial ou racismo não é (apenas) um ato ou atitude individual. Questões como raça, gênero e classe estão finamente entrelaçadas às estruturas da sociedade e de suas instituições. Por esse motivo, decisões e atitudes tomadas por tais instituições podem estar eivadas de racismo.

2. Grupos racializados, como negros, quilombolas e indígenas são vulneráveis por uma lógica política que os deixa morrer – e mata.

Indígena observa Rio Negro quase seco durante estiagem histórica na Amazônia: debate sobre direitos da natureza para garantir meio ambiente equilibrado para humanos e não humanos, incluindo animais, rios, plantas e montanhas (Foto: Alex Pazuello / Governo do Amazonas – 21/10/2023)

Compreendendo que as decisões políticas podem ser eivadas de racismo e que há uma lógica de apagamento e eliminação dessa população, fica mais fácil entender que racismo ambiental é também uma maneira de vulnerabilizar ainda mais tais populações.

Contudo, não temos acesso a essa consciência naturalmente. A muitos de nós, inclusive professoras e professores, não nos foi ensinado que perceber as diversas nuances do racismo estrutural é o primeiro passo. Para chegar até entender que é preciso ser antirracista para mudar as estruturas, é preciso investir no que chamamos de “letramento racial”. Isso significa desconstruir o que sabemos, como vemos, como sentimos a nossa sociedade e questionar tudo que temos como pedras fundamentais do saber.

Racismo ambiental, por fim, é uma das diversas consequências do racismo que estrutura as diversas sociedades modernas e, também, é um exemplo de injustiça ambiental. Mas, a verdade é que não haverá justiça ambiental enquanto houver racismo.

[1] Tradução minha. Título original: “Confronting Environmental Racism: voices from the grassroots”.

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Saiba como colocá-lo nas referências:

OLIVEIRA, Tassiana. O que é racismo ambiental mesmo?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2024/10/o-que-e-racismo-ambiental-mesmo.html>.

Referência e Sugestão de Leitura:

BULLARD, Robert D. (Ed.). Confronting Environmental Racism: Voices from the Grassroots. Boston: South End Press, 1993.

Qual o futuro da água no Brasil? Será que teremos escassez?

Vem entender como o Brasil está lidando com isso!

O Brasil é um país continental que possui uma localização geográfica privilegiada, tendo incidência solar durante todo o ano e clima tropical, o que favorece o cultivo de alimentos e o desenvolvimento da agricultura.

Outro fator de grande relevância no Brasil está relacionado à grande reserva de água doce que nosso território possui. Segundo informações da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico), o país possui a maior reserva de água doce superficial do planeta – correspondendo a 12% do total de água doce mundial, sendo recortado por diversas bacias hidrográficas. 

Mas apesar disso, a água não é distribuída de maneira igual por todo o território brasileiro, 68% da água superficial localiza-se na região Norte; 16% na região Centro-Oeste; 7% na região Sul; 6% na região Sudeste; e 3% na região Nordeste. A região mais densamente populosa, com 41,80% da população brasileira, é a região Sudeste [1], justamente a que possui uma das menores disponibilidades de água.

Diante disso, para entender se o país continuará a ter disponível sua reserva de recursos hídricos [2], é importante analisar a atual conjuntura (econômica, ambiental, climática e social). Diversos fatores impactam na preservação de nossas águas, merecendo destaque: o saneamento básico; os setores industrial, agrícola, e de energia; e as mudanças climáticas [3].

Mas, antes, dois importantes lembretes relacionados ao acesso à água. O primeiro é que o acesso à água potável é reconhecido pela ONU (Organização das Nações Unidas) como um direito humano. E o segundo é que no Brasil, de acordo com a Lei das Águas (Lei nº 9.433/1997), a água é considerada um bem de domínio público e um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. Ainda de acordo com essa lei, em situações de escassez, o uso prioritário da água é para o consumo humano e para a dessedentação de animais.

Saneamento Básico: Uma Necessidade Urgente

Apesar de estarmos em 2024, a universalização do saneamento básico no Brasil ainda está longe de acontecer. E o que isso significa em termos práticos? Significa que o país ainda não oferece acesso à água potável a toda sua população, situação que fica pior em localidades distantes da centralidade das metrópoles. E nas regiões de periferia (localidades que ficam às margens, no entorno dessas grandes cidades) o acesso à água potável também acontece de forma precarizada.

Além do acesso à água potável, os serviços de saneamento básico incluem a coleta e tratamento de esgoto; a drenagem de águas pluviais (águas vindas das chuvas); e a coleta e destinação correta dos resíduos urbanos (comumente chamados de lixo). E por quê? Porque no Brasil há o entendimento, na área das políticas públicas, de que todos esses serviços de saneamento impactam a os corpos hídricos do nosso país, principalmente se esses serviços são deficitários. Por isso, a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) está diretamente ligada a gestão das águas no país.

Quando não há o serviço de coleta de esgoto, ou quando há a coleta, mas sem o devido tratamento, esse esgoto (domiciliar, industrial, comercial e/ou hospitalar) acaba fluindo e sendo despejado sem qualquer tratamento em rios, lagos, lagoas, lençóis freáticos. E quando a coleta de resíduos (lixo) não é realizada ou quando esse serviço ocorre de forma precarizada, a destinação incorreta desses resíduos pode contaminar o solo e os corpos hídricos.

Por isso é necessário que ocorra o quanto antes a universalização do saneamento básico em nosso país. Caso contrário nossas águas estarão comprometidas devido a poluição, resultando em:

  • Altos custos para o sistema de saúde para tratamento de enfermidades e redução da produtividade da força de trabalho devido a doenças relacionadas à água e;
  • Comprometimento da disponibilidade de água para usos múltiplos, incluindo o abastecimento público e a irrigação agrícola.

Setor Industrial e Agrícola: Pressões sobre os Recursos Hídricos

Os setores industrial e agrícola desempenham um importante e fundamental papel na economia brasileira. No entanto, são também um dos principais consumidores de água em nosso país, o que nos acende um alerta, já que, são setores que precisam se modernizar no quesito de uso eficiente de recursos hídricos.

O setor agrícola, responsável por mais de 70% do consumo total de água no país, enfrenta desafios significativos devido à irrigação ineficiente, ao uso excessivo de agroquímicos e ao desmatamento. Essas práticas não apenas comprometem a sustentabilidade dos recursos hídricos, mas também afetam a produtividade e a competitividade do setor agrícola a longo prazo. É preciso uma gestão responsável e sustentável de recursos, sem desperdício e alinhada à realidade da emergência climática que o mundo está atravessando.

No setor industrial, a gestão inadequada da água e o lançamento de efluentes, muitas vezes repletos de produtos químicos, sem o tratamento adequado representam uma ameaça à qualidade e disponibilidade dos recursos hídricos. Isso acaba gerando custos adicionais para as empresas, em termos de multas ambientais e restrições operacionais.

Setor Energético: Vulnerabilidade à Escassez Hídrica

A matriz energética no Brasil é composta fortemente por energia renovável, possuindo grande destaque as usinas hidrelétricas. No entanto, essa fonte energética é bastante vulnerável às variações climáticas e aos impactos das mudanças climáticas.

Oscilações no regime de chuvas afetam a disponibilidade de água para geração de energia, levando a períodos de escassez hídrica e aumentando a volatilidade nos preços de energia. Fato já observado em períodos de estiagens e secas, onde as usinas termelétricas precisaram ser acionadas para atender a demanda de energia; havendo, consequentemente, além do ônus ambiental, também o ônus financeiro com aumento das tarifas de energia elétrica.

Diante dessa vulnerabilidade, a diversificação da matriz energética torna-se uma necessidade urgente, com investimentos em fontes renováveis alternativas, como solar, eólica e biomassa, reduzindo a pressão sobre os recursos hídricos e aumentando a resiliência do sistema energético como um todo.

Mudanças Climáticas: Agravando a Crise Hídrica

As mudanças climáticas já são, infelizmente, uma realidade em todo o mundo. E mais, estamos atravessando um período que os cientistas denominam como emergência climática, já que os efeitos das mudanças climáticas estão evoluindo de forma mais acelerada que se esperava.

Com isso, temos vivido a intensificação dos extremos climáticos, ou seja, o aumento da frequência e da intensidade de eventos como secas e enchentes. Secas prolongadas reduzem a disponibilidade de água, afetando a produção agrícola, a geração de energia hidrelétrica e o abastecimento público. Enquanto as enchentes causam danos materiais e humanos significativos, inclusive com a perda de vidas (o que poderia ser evitado se nossas cidades incluíssem a emergência climática em seus planejamentos urbanos), além de prejudicar a infraestrutura e a atividade econômica.

A adaptação às mudanças climáticas e a mitigação de seus efeitos exigem políticas públicas integradas, considerando principalmente a realidade das cidades, que promovam a gestão sustentável dos recursos hídricos, a conservação de ecossistemas aquáticos e a redução das emissões de gases de efeito estufa.

É preciso então que seja pensada uma gestão sustentável dos recursos hídricos no país com a inclusão dos fatores mencionados, com ações coordenadas e políticas públicas eficazes, assegurando assim a disponibilidade de água de qualidade para as gerações presentes e futuras. Ou caminharemos, a passos largos, para uma crise hídrica sem precedentes na história do país.

[1] IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Censo Demográfico 2022.

[2] A água é um recurso finito, que apesar de ter a capacidade de se regenerar não está conseguindo completar esse processo pois estamos poluindo os corpos hídricos em quantidade e velocidade maior que a natureza é capaz de regenerar.

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Saiba como colocá-lo nas referências:

ABREU, Nathália. Qual futuro da água no Brasil? Será que teremos escassez?.  Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2024/03/qual-o-futuro-da-agua-no-brasil-sera-que-teremos-escassez.html>.

Referência e Sugestão de Leitura:

ABREU, Nathália. Como o esgoto é tratado? Saiba como funciona uma ETE – Estação de Tratamento de Esgoto. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2020/08/como-o-esgoto-e-tratado-conheca-como-funciona-uma-ete.html>.

Dia Mundial do Meio Ambiente – Como ele afeta sua vida?

Hoje é Dia Mundial do Meio Ambiente, data criada pela ONU (Organização das Nações Unidas) que já é celebrada há 50 anos. Mas qual a importância dessa data? Criada em 1972, após a Conferência de Estocolmo, o objetivo da data é a sensibilização ambiental, ou seja, nos lembrar como o meio ambiente é essencial para a manutenção da vida na Terra, incluindo a sua, de seus familiares e amigos.

No entanto, mesmo a data sendo celebrada há tanto tempo, a situação do meio ambiente, ao passar dos anos, está cada vez mais comprometedora: aumento do número de espécies ameaçadas de extinção e da quantidade de espécies extintas, desmatamento, queimadas, secas, erosão do solo, aumento do nível do mar e acidificação de suas águas, derretimento das calotas polares, aumento de eventos climáticos extremos como tempestades, furacões e consequentemente de inundações, deslizamento de terra, dentre tantos outros.

Estamos vivenciando um cenário de crises sem precedentes, que  António Guterres, Secretário Geral da ONU, denominou como Crise Tríplice, uma vez que engloba a Crise Climática, a Crise de Perda de Biodiversidade aliadas à Poluição e ao Desperdício que ameaçam o bem-estar e a sobrevivência de milhões de pessoas em todo o mundo. Essas crises se retroalimentam em um círculo vicioso, impulsionadas por nosso modo de vida, principalmente a forma como consumimos. Por isso, o tema escolhido para o Dia Mundial do Meio Ambiente esse ano é “Soluções para a Poluição Plástica”. E por que discutir especificamente sobre o plástico?

Imagem: Al Generated/ Freepik

Segundo informações da ONU, mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas a cada ano em todo o mundo, e metade deste plástico é de uso único, ou seja, é projetado para ser usado apenas uma vez. E para piorar o quadro de poluição e degradação ambiental menos de 10% da produção total de plástico é reciclado, o que significa que cerca de 360 milhões de toneladas de plástico deixam de ser recicladas anualmente. 

Ainda de acordo com a organização, estima-se que 19 a 23 milhões de toneladas acabem anualmente em lagos, rios e mares – reflexo do descarte incorreto, seja por desinformação ou por falta de políticas públicas eficazes na área de saneamento básico.

Poluição Plástica e Microplásticos

O plástico, que polui as águas ao longo de cerca de 400 anos, tende a se decompor em pequenas e perigosas partículas de até 5 mm de diâmetro, conhecidas como microplásticos. Esses representam uma grande ameaça tanto à saúde ambiental como à saúde de nós, seres humanos.

Estudos estimam que cada ser humano tende a consumir mais de 50 mil partículas de plástico por ano, é como consumir cerca de um cartão de crédito semanalmente. Se considerar a inalação dessas partículas a partir de resíduos plásticos queimados, essa quantidade tende a ser muito maior.

Imagem: Freepik

Por serem muito pequenas, as partículas de microplástico que seguem para os cursos hídricos são ingeridas pela fauna aquática gerando poluição e passando a integrar a cadeia alimentar. Além disso, devido ao seu tamanho, os microplásticos não são filtrados pela atual tecnologia usada para filtragem de água potável. O que nos faz ingerir cada dia uma quantidade maior dessas partículas.

Da Poluição à Busca da Solução no Brasil

Diante desse cenário alarmante de poluição, o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) junto aos ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima, da Ciência, Tecnologia e Inovação, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços realizará dia 6 de junho às 08h o evento “O Brasil em Busca de Soluções para a Poluição Plástica”.

Imagem: UNEP

O evento tratará sobre soluções para a poluição plástica em níveis global e local, com um olhar sobre o fomento à economia circular, incluindo o reuso e a reciclagem. Será a oportunidade para tratar urgência da eliminação da poluição plástica e para o comprometimento do governo, das empresas e da sociedade em desenvolver uma transição justa e equitativa para um mundo com menos plásticos.

Você poderá acompanhar o evento através da transmissão ao vivo no canais do Youtube do MMAMCITMDIC e PNUMA.

Da Poluição à Busca de Solução no Mundo

A nível global, podemos observar um movimento mais organizado e concreto a cerca da redução da poluição plástica.  No âmbito da ONU foi aprovado um acordo histórico para acabar com a poluição plástica e estabelecer um acordo internacional juridicamente vinculante até 2024, abordando todo o ciclo de vida do plástico (do design ao descarte).

E o que isso significa. Essa proposta cria o Comitê Intergovernamental de Negociação, responsável pela criação de alternativas que abordem todo o ciclo de vida do plástico, o design de produtos e materiais reutilizáveis e recicláveis, e a necessidade de uma maior colaboração internacional para facilitar o acesso à tecnologia, à capacitação e à cooperação científica e técnica.

Aprovação é aplaudida de pé./ Foto: PNUMA

Os próximos anos serão de muito trabalho em direção a um modo de vida menos ligado à economia linear (de consumo e descarte) e mais envolvido com a economia circular – que dentre outras aspectos, por meio de pesquisa, desenvolvimento e inovação prevê menos descarte e mais reutilização e reincorporação de matérias-primas ao ciclo de produção, redesign e novas funcionalidades, gerando cada vez menos descarte e consequentemente menos poluição e externalidades ao meio ambiente.

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Saiba como colocá-lo nas referências:

ABREU, Nathália. Dia Mundial do Meio Ambiente – Como ele afeta sua vida?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2023/06/dia-mundial-do-meio-ambiente-como-ele-afeta-sua-vida.html>.

Referências e Sugestões de Leitura:

HOOD, Marlowe; LEGENDRE, Benjamin, AFP. ‘Abusamos do plástico porque é muito barato’, alerta diretora da ONU para o Meio Ambiente. O Globo. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/um-so-planeta/noticia/2023/05/abusamos-do-plastico-porque-e-muito-barato-alerta-diretora-da-onu-para-o-meio-ambiente.ghtml>.

Nações Unidas. Com foco em soluções para a poluição plástica, Dia Mundial do Meio Ambiente 2023 será sediado pela República de Côte d’ Ivoire. Nações Unidas Brasil. Disponível em: <https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/comunicado-de-imprensa/com-foco-em-solucoes-para-poluicao-plastica-dia>.

Nações Unidas Brasil. Dia Mundial do Meio Ambiente: Brasil debate soluções para a poluição plástica. Nações Unidas Brasil. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/234494-dia-mundial-do-meio-ambiente-brasil-debate-solu%C3%A7%C3%B5es-para-polui%C3%A7%C3%A3o-pl%C3%A1stica>.

Nações Unidas Brasil. Entenda a nova resolução sobre poluição plástica da ONU. Nações Unidas Brasil. Disponível em: <https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/entenda-nova-resolucao-sobre-poluicao-plastica-da-onu>.

Nações Unidas Brasil. ONU enfatiza tríplice crise no Dia Internacional da Mãe Terra. Nações Unidas Brasil. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/178957-onu-enfatiza-tr%C3%ADplice-crise-no-dia-internacional-da-m%C3%A3e-terra>.

Como lidar com o consumo infantil no final de ano?

Com a chegada do final do ano, somos bombardeados por estímulos ao consumo desde o mês de novembro com supostas promoções, avançando para festas e eventos que propõe troca de presentes.

As marcas e empresas investem pesado em propagandas junto com fortes apelos emocionais para vender o seu produto. Nós adultos precisamos estar atentos e planejados para não gastar e consumir de forma descontrolada e, por vezes, até adquirir dívidas.

Neste contexto, as crianças também são induzidas a desejos e necessidades de consumo com lançamentos e comerciais de muitos brinquedos, recheado de cores, sons e personagens.

Imagem: Creative Commons

Como lidar com o desejo de consumo das crianças nesta época? O que fazer com relação aos eventos e desejos por presentes?

É importante dizer que o diálogo com as crianças é indispensável, porém precisamos ser coerentes e refletir sobre as dificuldades de trabalhar questões como o consumo, especialmente neste período do ano.

Crianças são levadas a desejar e pedir presentes e, de acordo com a realidade socioeconômica em que vivem, amigos e parentes possivelmente darão todo tipo de brinquedo, roupa ou presentes que sejam falados e desejados no período.

Assim, o consumo acaba sendo estimulado, sem considerar necessidades reais além de gerar muito acúmulo.

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Privar as crianças de receberem presentes ou desejarem o que a mídia e a publicidade lhes apresentam, pode gerar sofrimento para elas, pois ainda estão em desenvolvimento criando e compreendendo valores.

O que podemos fazer então?

Se você for presentear uma criança e optar por um brinquedo, considere, se possível, valores das empresas e materiais mais sustentáveis, mas também é muito importante refletir sobre sua relevância para a aprendizagem e desenvolvimento infantil.

Não conhece muito sobre desenvolvimento infantil?

Muitos brinquedos acabam limitando as interações e criatividade, pois funcionam sozinhos, especialmente aqueles que ligam e fazem tudo sozinhos e aqueles que representam personagens conhecidos que as crianças apenas imitam o que já viram nos programas e desenhos assistidos.

Sendo assim, procure brinquedos com os quais as crianças possam interagir, criar, manipular peças, montar e desenvolver a brincadeira.

Imagem: Creative Commons

Além dos brinquedos, uma boa maneira de lidar com questões de consumo é utilizar materiais que já possuem em casa e confeccionar novos brinquedos ou dar nova utilidade, criando brincadeiras com a criança.

Brincar junto com os pequenos será prazeroso para eles e positivo para seu desenvolvimento, o que pode ser muito significativo no trabalho quanto ao consumismo e ainda gerar reflexões sobre valores. Além disso, possibilita a reutilização de materiais que seriam descartados, ensinando, consequentemente, práticas de sustentabilidade.

Já costuma se preocupar com consumo e sustentabilidade com a convive, porém ela recebe presentes de pessoas próximas e parentes?

Que tal aproveitar esse momento de chegada de brinquedos e roupas novas e refletir sobre os que já estão mais velhos?

A prática de revisar brinquedos e roupas das crianças pode propiciar um momento afetivo e, certamente, pensar sobre o que possui, observando se tudo o que tem e está em boas condições está sendo utilizado.

Neste momento, juntos podem verificar as coisas que não estão em boas condições e aprender a fazer o descarte correto. Fazendo isso, podemos perceber inclusive que geramos muitos resíduos.

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Já aquilo que estiver em boas condições, mas não for utilizado, poderá ser doado, atuando de forma muito expressiva no desenvolvimento infantil para que a criança compreenda o valor do que possui, além de conhecer a realidade de outras crianças, experienciar a importância de partilhar e a alegria de dar nova vida aos seus pertences que estavam parados e poderão levar felicidade a outras crianças.

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MATTARA, Bianca. Como lidar com o consumo infantil no final de ano. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/como-lidar-com-o-consumo-infantil-no-final-de-ano.html>.

Qual prioridade o Brasil (não) dá à Mobilidade Urbana Sustentável?

Cada vez mais, o mundo está de olho em tudo o que pode ser responsável por agravar o efeito estufa. E, ao falarmos sobre mobilidade urbana, a atenção que recai sobre o assunto é ainda maior.

De acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), os automóveis de passeio são responsáveis por 62% das emissões de monóxido de carbono, enquanto os ônibus somam cerca de 2%.

Ironicamente, as cidades seguem incentivando políticas de aquisição de veículos particulares, uma vez que o Estado brasileiro é sócio e refém da indústria automobilística. Como se não bastasse, a sociedade carrega a tradição do carro próprio como símbolo de poder e status.

E o problema não para por aí.

Automóvel particular: o lobo em pele de cordeiro

O espaço físico ocupado pelos automóveis é absolutamente desproporcional quando comparado ao transporte coletivo. Em 2017, o sistema viário da cidade de São Paulo era composto da seguinte maneira:

  • 3,7 milhões de pessoas eram transportadas por uma frota de 17 mil ônibus;
  • 2,7 milhões de pessoas eram transportadas por uma frota de 4 milhões de automóveis individuais.

Em síntese, os carros utilizavam uma frota 250 vezes maior para transportar um número de pessoas 27 vezes menor em relação ao transporte público coletivo. Não à toa, os automóveis ocupam cerca de 80% da malha viária e os ônibus apenas 6%, demonstrando a falta de democratização das vias públicas.

Na contramão de países desenvolvidos, o Brasil prioriza o transporte individual ao invés do coletivo:

  • O diesel, que representa cerca de ¼ do custo total da tarifa no transporte público, subiu 250% nos últimos 19 anos;
  • A gasolina, principal combustível utilizado nos veículos individuais, no mesmo período sofreu um reajuste de 56,4%.

Além disso, segundo um estudo realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), o país soma 1.062 Km de linhas de metrôs e trens, contando com um déficit de 850 Km. Para transportar 25 mil pessoas, um trem precisaria dar 9 viagens e um automóvel quase 14 mil viagens. Alguma dúvida de que o modal errado está sendo priorizado?

No Brasil, o transporte público praticamente não conta com subsídios do poder público, ou seja, todos os custos são cobertos pela tarifa paga pelos passageiros. Com valores crescentes de passagem, superlotação e horários irregulares, mais gente se vê obrigada a recorrer aos automóveis particulares ou aos percursos a pé.

O impacto das bicicletas e dos carros elétricos

A bicicleta é o meio de transporte mais sustentável e que, justamente por isso, deveria ser fomentada. Governos que já se conscientizaram a respeito da proeminente crise climática que estamos enfrentando, têm buscado estimular seu uso.

Como exemplo, podemos citar Finlândia, Itália e França que financiam e oferecem subsídios de até 16 mil reais para motoristas que trocarem os carros por bikes.

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Em São Paulo, porém, pesquisas apontam que a falta de segurança impede os paulistanos de adotar a bicicleta como meio de transporte principal. Vale ressaltar que pintar uma faixa na rua e chamá-la de ciclovia não basta, é preciso que haja planejamento urbano e mudança de paradigmas.

A propósito, falando em mudança, diversas montadoras de veículos ao redor do mundo têm anunciado a substituição de suas frotas por modelos elétricos, que são menos agressivos ao meio ambiente. Sem dúvida, a decisão representa um avanço.

Contudo, se a partir de hoje, todos os novos carros vendidos no mercado passassem a ser elétricos, ainda levaria de 15 a 20 anos para substituir completamente a frota mundial de carros movidos a combustível fóssil.

Além do mais, continuar extraindo recursos naturais e descartando pneus, óleos e carcaças não parece uma estratégia muito revolucionária. A solução não está em tornar os carros mais verdes, mas sim em frear sua existência.

Imagem: Freepik

Para tanto, é preciso pensar na expansão dos modais sustentáveis de forma acessível e segura, bem como estar atento à demanda de calçadas niveladas e sem buracos. Afinal, ⅓ das viagens realizadas nas cidades brasileiras é feita a pé ou em cadeiras de rodas.

Solução definitiva precisa do Público-Coletivo

Transformar o cenário atual exige limitar a lotação dos ônibus e ampliar as frotas para que eles passem com maior frequência nos pontos. É crucial também, que a acessibilidade seja adequada e planejada corretamente para incluir pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.

Políticas de incentivo ao transporte sustentável já existem e são adotadas: Barcelona oferece passagem gratuita por três anos a cidadãos que vendem seu veículo antigo; a prefeita de Paris, por sua vez, busca a redução dos automóveis aumentando zonas restritas a pedestres.

Imagem: Freepik

Embora o problema seja difícil de ser resolvido, não é, nem de longe, impossível. Aos poucos, a cultura tem mudado e o automóvel deixado de ser o sonho de consumo das pessoas com maior consciência ambiental.

Lentamente, esse desejo passado de geração em geração, perde força e para que isso ocorra de forma rápida e definitiva, o caminho é claro: priorizar o transporte público coletivo, que é dever e direito de todos!

 

Referências e Sugestões de Leitura: 

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SILVA, Pâmela. Qual prioridade o Brasil (não) dá à Mobilidade Urbana Sustentável?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/qual-prioridade-o-brasil-nao-da-a-mobilidade-urbana-sustentavel.html>.

Quanto sua Cidade Estoca de Carbono?

O paisagismo urbano se manifesta na forma de plantas arbóreas, arbustivas e herbáceas, tanto nas calçadas de ruas e avenidas, e em praças e canteiros, quanto em áreas privadas, parques municipais, outras Unidades de Conservação e áreas verdes residuais.

A somatória de todos esses espaços constitui o que chamamos de Floresta Urbana. Dentre os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) acordados na Cúpula das Nações Unidas até 2030, 9 são contemplados pelos benefícios das Florestas Urbanas. A melhoria microclimática advinda das árvores não se restringe apenas a um benefício ecológico, mas também econômico e social (MARTINI, 2015).

Parque das Mangabeiras, Fragmento Florestal Urbano localizado na Zona Sul de Belo Horizonte, com relevância no processo de estoque de carbono. Foto: Leonardo Paiva/ Autossustentável.

De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), as árvores em ambiente urbano contribuem para o resfriamento do ar, filtragem de poluentes, regulação do fluxo de água e melhora da qualidade da água, fornecimento de madeira e não-madeireiros, fornecimento de alimento, melhoria da saúde física e mental, redução da necessidade de resfriamento artificial do ar e economia de energia, aumento da biodiversidade urbana, valorização dos imóveis ao redor, estocagem de carbono e mitigação das mudanças climáticas. Ainda é possível extrair mais benefícios que estes citados, conforme se discute o assunto.

De todos esses serviços ecossistêmicos, o mais relevante para este artigo – mas não o único – é a estocagem de carbono e mitigação das mudanças climáticas. O conceito de sequestro de carbono, consagrado pela Conferência de Quioto, em 1997, é a absorção, pelas plantas durante o processo de fotossíntese, de grandes quantidades de gás carbônico (CO2) da atmosfera. As árvores, cujo tronco é 80% composto de carbono, são verdadeiros aspiradores de CO2 da atmosfera: 150 a 200 toneladas do gás por hectare. Uma árvore, sozinha, é capaz de absorver 180 quilos de CO2.

Segundo artigo na Revista Brasileira de Ciência do Solo, atualmente, tem sido constatada a intensificação do aquecimento global, causado pelo aumento das emissões dos gases responsáveis pelo efeito estufa, oriundos principalmente da queima de combustíveis fósseis, do desmatamento e do uso inadequado do solo para agricultura. No contexto urbano, o fator primordial é o desmatamento, uma vez que, é o processo natural para o surgimento de uma cidade.

Mesmo que não se configurem entre as maiores causadoras da destruição de habitats e do desmatamento, as cidades abrigam cada vez mais pessoas e, consequentemente, ocupam mais espaço. Existem grandes megalópoles pelo planeta, como entre São Paulo e Rio de Janeiro, a famosa Bos-Wash (Boston-Washington) e entre as cidades japonesas de Tóquio, Kitakyushu e Osaka, além de muitas metrópoles, cidades médias e pequenas. Todas essas áreas, servidas de bom aporte de vegetação, trazem uma contribuição a mais no processo de retirada de CO2 da atmosfera e, consequentemente, na mitigação das mudanças climáticas.

Árvores presentes no centro de Belo Horizonte – MG. A arborização de ruas e avenidas também contribuem para a mitigação das mudanças climáticas. Foto: Leonardo Paiva/ Autossustentável.

Na perspectiva de que toda e qualquer árvore ou arbusto presente nas cidades sequestra carbono nos seus troncos e, em larga escala, esse processo traz alguma contribuição para mitigar o aumento da concentração relativa de CO2 na atmosfera, temos um montante que não deve ser desprezado. Em Belo Horizonte, por exemplo, cerca de 12% de seu território é formado por áreas verdes compostas por remanescentes florestais. Isso significa 40Km² de área para estoque de carbono ou, de acordo com os números mostrados acima, cerca de 700.000 toneladas de CO2! Isso sem considerar as plantas presentes nas ruas, avenidas e jardins particulares.

Outro efeito, mais indireto, diz respeito à sensibilização das pessoas às questões ambientais quando em contato com áreas verdes. A experiência prática dos cidadãos, corroboradas por estudos, sugerem que a presença de parques – ou qualquer espaço amplamente arborizado e tranquilo, inserido no contexto turbulento de uma cidade – como o Ibirapuera em São Paulo, o Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, ou o Américo René Gianetti, em Belo Horizonte, têm potencial de diminuir a ocorrência de transtornos mentais comuns. Isso pode afetar os cidadãos para além do contexto urbano: olhar para fora da cidade significa se preocupar com o Cerrado, com a Mata Atlântica e com a Amazônia e com a luta pela preservação destes biomas, sim, traz benefícios importantes quanto à mitigação das mudanças climáticas.

Referências e Sugestões de Leitura:

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PAIVA, Leonardo. Quanto sua Cidade Estoca de Carbono?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/quanto-sua-cidade-estoca-de-carbono.html>.

Como trazer a discussão sobre Justiça Climática para a sala de aula?

Nosso planeta já sofre atualmente as consequências da emergência climática e os cientistas deixaram claro no último relatório do IPCC que as ações antrópicas são a causa dessa intensificação do aquecimento da Terra [1]. Entretanto, definitivamente não sofremos os impactos de forma equitativa.

Os termos “injustiça climática” e “racismo ambiental” trazem justamente esse debate: as populações mais vulneráveis e oprimidas são as mais afetadas, as que menos contribuíram com o problema e que são pouco representadas nas mesas de proposição de soluções e políticas públicas.

Imagem: Freepik

Tenho visto essa pauta muito mais presente nos meios de comunicação, produções acadêmicas e até na última COP realizada em Glasgow. Entretanto, a escola, como aliada fundamental no enfrentamento da emergência climática, também precisa acompanhar e inserir o debate em suas propostas e ações.

Elenco aqui algumas dicas e possibilidades para iniciar o trabalho com justiça climática na escola – entendendo que tudo isso depende sempre do contexto, faixa etária e maturidade dos grupos.

Imagem: Freepik

Estudar e dialogar sobre o tema

É essencial buscar conhecimento e trocar com outros educadores sobre o assunto. Proponha grupos de estudos, leitura de livros e artigos, rodas de diálogo e caso sinta necessidade, convide algum especialista para conversar com o grupo.

Conhecer e apresentar outras lideranças climáticas

Os jovens e crianças precisam ter outras referências para além da Greta Thunberg. Lideranças negras, indígenas e quilombolas como Txai Suruí, Paloma Costa e Vanessa Nakate.

Contar histórias

Compartilhar histórias de comunidades e pessoas que foram impactadas pela emergência climática, com nomes, rostos e endereços costuma sensibilizar e criar mais empatia.

Analisar imagens e realizar exposições fotográficas

Imagens têm um potencial muito grande de serem disparadoras para vários debates e diferentes interpretações. Observar fotos de eventos climáticos extremos ou até mesmo bairros com maior poluição ou contaminação pode trazer reflexões sobre o que essas comunidades têm em comum.

Enchente histórica atinge mais de 800 famílias na região de fronteira. Foto: Sérgio Vale/Agência de Notícias do Acre/ Agência Brasil

Propor jogos de papéis

Se colocar no lugar de um grupo de atores, comunidades e até países para dialogar com outros grupos pode ser uma atividade muito rica para o debate sobre justiça climática. Como seria estar na COP 27 como representante de Tuvalu, uma ilha no Pacífico que pode desaparecer do mapa com o aumento do nível do oceano?

Assistir a filmes e documentários

Assim como as fotos, o audiovisual tem um potencial enorme de sensibilização e de fonte para de debates.

Se conectar e se inspirar com outros movimentos e grupos

Inspire-se e conecte-se com outros grupos que estejam discutindo sobre a temática e até mesmo lutando por justiça climática. É importante que possamos nos fortalecer e enxergar caminhos possíveis e grupos atuantes.

O tema é complexo e pode parecer desafiador para muitos, mas não podemos mais encarar desafios ambientais sem colocar o debate sobre justiça social e o fim das desigualdades e opressões na conversa. Afinal, como bem colocou Robert Gilman, “não existem problemas ambientais, existem apenas sintomas ambientais de problemas humanos”.

*Se você já fez algum trabalho sobre justiça climática em sua escola ou qualquer outra instituição, comenta aqui que vou adorar conhecer. E se tiver qualquer dúvida, estou também à disposição para o diálogo.

[1] IPCC. Climate Change 2021, The Physical Science Basis, 2021.

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RIBEIRO, Livia. Como trazer a discussão sobre justiça climática para a sala de aula?. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/como-trazer-a-discussao-sobre-justica-climatica-para-a-sala-de-aula.html>.

Você conhece o Tratamento de Esgoto por Wetlands Construídos?

Imagem: Jörn Uwe Germer/ Wikimedia

Ao acessar o site do Instituto Trata Brasil, fui recepcionada com a seguinte informação: desde o mês de Janeiro de 2021, são despejadas – POR DIA – no meio ambiente “5.368 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento”.

Como já descrito em um artigo aqui no site, o esgoto passa por dois processos – coleta e tratamento – antes de ser despejado em corpos hídricos. Porém, devido a deficiências no sistema sanitário apenas 46% do esgoto gerado é devidamente coletado e tratado, segundo o “Ranking do Saneamento de 2021, do Instituto Trata Brasil.

Imagem: Freepik

Além dos impactos ambientais, a insuficiente coleta e tratamento de esgoto ocasionam problemas de saúde pública e escassez hídrica. Somente em 2019 houve mais de 270 mil internações causadas por doenças relacionadas à falta de saneamento básico, e cerca de 16% da população brasileira carecem de água potável.

O tema possui tanta importância que um dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), o ODS 6, prevê acesso equitativo à água potável e ao saneamento até 2030. Em paralelo, destacam-se as Soluções Baseadas na Natureza – SBN, como alternativas da área de planejamento urbano, que visam a consolidação de Cidades Sustentáveis no Brasil e no mundo.

Imagem: ONU Brasil

Uma das SBN é o Tratamento de Esgoto por Wetlands Construídos, uma tecnologia baseada nos princípios das áreas naturalmente alagadas (pântanos, brejos, várzeas, mangues, charcos, entre outros), que se originou na década de 1950 e que vem ganhando interesse por ser um sistema simples e de baixo custo.

Os Wetlands Construídos são basicamente a construção de canais ou lagoas artificiais que abrigam plantas aquáticas, onde são despejados esgotos e a partir da interação desse ecossistema e seus processos físicos, químicos e biológicos, ocorre a modificação da qualidade e a despoluição da água. Ou seja, reproduzem os processos de áreas naturalmente alagadas, mas de maneira controlada.

Podem ser classificados em dois tipos: os sistemas que utilizam plantas aquáticas flutuantes, e os que utilizam plantas aquáticas emergentes. No primeiro, trata-se de canais rasos cuja espécie mais utilizada no Brasil é a Aguapé (Eichhorniacrassipes), a qual apresenta elevada capacidade de resistir a altos níveis de poluição da água. No segundo caso, o grupo de plantas mais utilizado é o Junco, sendo a Taboa (Typhadomingensis) e o Caniço (Phragmitesaustralis) as espécies mais conhecidas. Nesse sistema, as raízes das plantas se prendem aos sedimentos depositados, e, por isso, os lagos devem ser projetados com maior profundidade.

Diagrama de fluxo vertical “pântanos construídos”, usado para tratamento de águas residuais. Imagem: Swiss Federal Institute of Aquatic Science and Technology Technical drawings: designport, Paolo Monaco, Zurich

Os Wetlands Construídos apresentam muitas vantagens, e uma delas é que podem ser aplicadas de maneira descentralizada, ou seja, para o tratamento de águas residuais domésticas, industriais, de mineração ou urbanas. Soma-se também o fato de ser uma tecnologia de baixo custo de implantação e manutenção, comparando-se aos métodos tradicionais.

O tamanho da área necessária para o projeto pode ser o principal desafio para sua implantação em grandes centros urbanos. Por outro lado, o planejamento prévio de parques residenciais ou industriais pode viabilizar a implantação, pois além do tratamento de esgoto dessas áreas, podem servir como jardins filtrantes na drenagem das águas pluviais urbanas, minimizando o perigo de enchentes e alagamentos.

Há diversos estudos que comprovam a eficiência de Wetlands Construídos em áreas urbanas e rurais, como os realizados pelo Grupo de Estudo em Saneamento Descentralizado – GESAD da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), demonstrando que esse sistema possui grande potencial estratégico para aplicação em comunidades locais, principalmente aquelas carentes de esgotamento sanitário.

Outro fator relevante é o seu “anonimato”, pois numa pesquisa informal feita em minhas redes sociais, constatei que num total de 200 pessoas, apenas 19% tinham conhecimento de Wetlands Construídos, ou seja, nem 40 pessoas sabiam do que se tratava.

Imagem: Freepik

Se além dos métodos tradicionais de tratamento de esgoto, também houver interesse por métodos alternativos e espaço para parcerias entre universidades, poder privado e poder público, seria possível reverter a quantidade alarmante de “piscinas de esgoto” mencionada inicialmente.  Somente com a combinação de soluções globais e locais é que o cumprimento da gestão sustentável da água e saneamento equitativo poderá ser alcançado até 2030.

Referências e Sugestões de Leitura:

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ARTIJA, Maria Vitória. Você conhece o Tratamento de Esgoto por Wetlands Construídos?.  Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/voce-conhece-o-tratamento-de-esgoto-por-wetlands-construidos.html>.

Quem é a população de baixa renda?

A erradicação da pobreza é uma das metas da humanidade e muitos planos de ação foram criados por governos a fim de minimizar as diferenças discrepantes de renda. Na Constituição Federal, um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil é “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.”

Para tanto, temos a Seguridade Social que se divide em três grandes áreas: previdência, saúde e assistência social. Na área de previdência, somente tem acesso aqueles que trabalham e contribuíram para a Previdência, mas nas áreas de saúde e assistência social não existe a necessidade de contribuição ou pagamento. Todo brasileiro tem direito a receber auxílio nessas duas áreas. No entanto, alguns benefícios e serviços são criados apenas para a população carente ou de baixa renda.

Imagem: Freepik

A Assistência Social é destinada a identificar e proteger pessoas em risco social, principalmente a população de baixa renda, a fim de minimizar as consequências que a pobreza tem na dignidade e qualidade de vida da população. Seus objetivos constitucionais são:

  • I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
  • II – o amparo às crianças e adolescentes carentes;
  • III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;
  • IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;
  • V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Uma das grandes questões é a capacidade de atendimento e também a necessidade de saber quem é a população carente ou de baixa renda que terá direito aos benefícios e programas governamentais.

Foto: Marko Milivojevic/ Pixnio

Este benefício mensal mencionado nos objetivos da assistência social é o Benefício de Prestação Continuada – BPC, também chamado de LOAS ou benefício assistencial. É pago para quem tem mais de 65 anos ou para a pessoa com deficiência e, nos dois casos, que comprovem baixa renda. Existe uma lei específica que regulamenta e é nela que descobrimos o critério de miserabilidade (sim, esse é o termo da lei): a renda por pessoa do grupo familiar não pode ultrapassar ¼ de salário-mínimo (R$ 275,00). Para calcular este valor a lei permite que sejam descontados alguns gastos e em algumas situações pode chegar a ½ salário-mínimo por pessoa.

Recentemente houve a regulamentação do auxílio-inclusão, para aquelas pessoas com deficiência que tem direito ao Benefício de Prestação Continuada, mas que desejam voltar ao mercado de trabalho. Além de provar que tem direito ao BPC, o salário do novo trabalho não deve ultrapassar 2 salários-mínimos. E então esta pessoa poderá receber um benefício equivalente a metade do salário-mínimo.

Imagem: Freepik

Outro benefício que utiliza o critério de baixa renda é o auxílio-reclusão. Quando um trabalhador que contribui para a previdência, mas que recebia um salário de até R$ 1.503,25, os seus dependentes (esposa/esposo e filhos) poderão receber o auxílio-reclusão. Isto para proteger principalmente as crianças e adolescentes de baixa renda.

O novíssimo Auxílio-Brasil (criado no início de novembro), que vem substituir o Bolsa-Família, tem um novo critério chamado de “Linha de Extrema Pobreza”, com renda mensal por pessoa da família de até R$ 100,00), e “Linha da Pobreza”, com renda mensal entre R$ 101,00 e R$ 200,00. Conforme a renda e outras características é possível receber benefício de R$ 130 ou R$ 65,00 por integrante da família.

Foto: Davidson Luna/ Unsplash

Como vimos, cada benefício tem seu próprio critério de baixa renda baseados em valores objetivos, mas é necessário verificar as características de cada grupo familiar para que se tenha direito a esses benefícios. Todo o aparato da Assistência Social está direcionado para mapear e auxiliar a população de baixa renda a ter acesso a esses serviços e benefícios.

Saiba mais:

Seja qual for o critério de baixa renda, todos os benefícios devidos a essa população têm como pressuposto o cadastro no CadÚnico. Esse cadastro é feito nos CRAS – Centros Regionais de Assistência Social. A meta é cadastrar todas as famílias de baixa renda e há a necessidade de atualização do cadastro a cada 2 anos ou sempre que a renda familiar for alterada.

O “Meu CadUnico” é um aplicativo para celular e site em que é possível acessar as informações lá cadastradas. Esse sistema utiliza a mesma senha do “Conecte SUS”, do “Meu INSS” e da “Carteira de Trabalho Digital”.

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Saiba como colocá-lo nas referências:

STEFFEN, Janaína. Quem é a população de baixa renda?.  Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/12/quem-e-a-populacao-de-baixa-renda.html>.

Tratamentos para Linfedema – Recuperando Bem-Estar e Qualidade de Vida

Manter a saúde física e mental é essencial para o bem-estar e uma melhor qualidade de vida. Devido à pandemia, tivemos nossa rotina de vida drasticamente alterada.

A adoção de home office deixou a rotina diária ainda mais agitada com vida profissional e pessoal compartilhando o mesmo espaço. E isso colaborou para que muitas pessoas desenvolvessem maus hábitos de vida, como o sedentarismo – por falta de atividades físicas – e alimentação nada saudável – com a explosão do consumo de fast food por entrega.

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Os maus hábitos afetam nossa saúde, provocando sobrepeso, obesidade, aumento da chance de desenvolvimento de alguns tipos de câncer e doenças crônicas como diabetes e pressão alta. Esses distúrbios potencializam o surgimento de linfedemas, que afeta 15% da população mundial.

O linfedema ocorre por danos no sistema linfático que é composto por vasos e gânglios linfáticos distribuídos pelo corpo. Funcionando paralelamente ao sistema circulatório, esse sistema tem como principal função controlar os fluidos teciduais, ou seja, coletar e transportar água, proteínas, gorduras e outros resíduos das células do corpo – substâncias que compõe a linfa.

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O tipo mais comum de linfedema é o de membros inferiores, atingindo até 80% das pessoas que desenvolvem essa doença. Inchaço e sensação de peso nas pernas devido ao acúmulo de linfa, diminuição da mobilidade e dores são alguns dos sintomas do linfedema nas pernas. Essa doença compromete a qualidade de vida dos pacientes, pois reduz sua independência e impacta diretamente na imagem corporal.

Assim, os tratamentos para linfedema nas pernas são de extrema importância para a recuperação da auto-estima e da qualidade de vida. Drenagem linfática; tratamento com meia de compressão; uso de medicação; exercícios físicos e avaliação nutricional; e tratamento com aparelhos de retorno venoso são alguns dos tratamentos existentes para linfedema nas pernas, que devem ser prescritos de acordo com o estágio da doença.

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É imprescindível a busca por assistência médica qualificada assim que os primeiros sintomas surgirem, pois quanto antes for iniciado o tratamento, mais rápido os sintomas podem ser atenuados. Com a avaliação médica é possível dar início ao tratamento que, além de auxiliar o indivíduo a melhorar a condição de maior gravidade, também colabora para a manutenção da saúde ao longo de tempo.

Comunidades Digitais: conectando pessoas e ideais através da biodiversidade digital

O tema das relações digitais efêmeras e da produção desenfreada de conteúdo não é algo surpreendentemente novo. Parece que de alguma forma normalizamos o contato e o consumo dessa nova vida digital. Para muita gente, aqueles que conseguiram se adaptar e prosperar neste cenário (de preferência mantendo a saúde mental), esse movimento também é sinônimo de lucro.

A pandemia, as incertezas, as transformações e a crise intensificaram ainda mais esse universo. Fizeram com que muita gente precisasse se reinventar, tanto na forma de oferecer conteúdo, serviços e produtos, quanto na forma de consumir.

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Mesmo diante de limitações (e talvez justamente por causa delas), abriu-se espaço para oportunidades. Já dizia Bill Molisson, o pai da permacultura: “o problema é a solução”. Cada adversidade se torna placenta para soluções criativas e inovadoras. As estratégias de oferta, a comunicação e o relacionamento com os clientes precisaram ser repensadas.

O online virou a palavra-chave desse novo normal. Um grande desafio para quem já tinha seu negócio estabelecido, mas um momento oportuno para quem estava precisando se reinventar, se profissionalizar, mudar de área ou estudar sobre algum tema específico. A hora de tirar aquele hobby da gaveta, se encantar com alguma novidade e distrair a mente para não surtar.

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Segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), em 2020 durante a quarentena o uso da internet no Brasil cresceu entre 40% e 50%. Os dados também mostram que o impacto do isolamento contribuiu para que 46% dos brasileiros fizessem mais compras online. No setor educacional, os números são ainda maiores. As buscas por cursos online cresceram 73% de acordo com dados do Google.

Profissionais das mais diversas áreas aproveitaram a reclusão e a introspecção em meio à crise global para colocar no mundo seus projetos de ensino a distância. Aos poucos foram surgindo os mais diversos tipos de cursos. Quem surfou a primeira onda deve ter feito tantos zeros de lucro que, sem dúvida, aguçou o mercado. Plataformas se aprimoraram e deram início a uma grande corrida audiovisual com múltiplos formatos de produção, das mais caseiras às mais robustas.

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Nesse momento ganharam espaço aqueles cursos que te ensinam a vender seu próprio negócio, seja ele sobre cursos, serviços, conteúdos ou outros, sendo infoproduto ou não. Esses gurus da web dizem saber os segredos de como driblar o algoritmo, detém a resposta definitiva para o sucesso virtual. Com o passar dos meses, essas estratégias foram ficando cada vez mais óbvias e populares.

É só rolar o feed e observar. Praticamente todo mundo faz mais ou menos do mesmo jeitinho, com as mesmas palavras chaves, a mesma linguagem, as mesmas dancinhas, ritmos e jargões. É sobre isso, mas está mesmo tudo bem?

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Esse novo modelo do marketing-digital-versão-pandêmica e todos os seus gurus representam a monocultura da nossa mente. Representam a forma engessada de como estamos consumindo e produzindo conteúdo na internet e fora dela.

Passamos a entender nossos consumidores e clientes como números, suas vidas foram catalogadas em interesses e perfis de navegação. Seus desejos se tornam gatilhos para que sintam necessidade daquilo que oferecemos, vibrando a máxima da escassez. Afinal de contas, se você não comprar agora vai perder benefícios super exclusivos.

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É o padrão de beleza e a harmonização que se repete da mesma forma. A criatividade vem sendo tratada como commodity e, o pior, é que muitas vezes nos convencem em menos de 15 segundos a clicar no link e mudar de vida.

Se olharmos para a natureza, podemos perceber que essa padronização não faz sentido. A primeira coisa que salta aos olhos em uma floresta é a biodiversidade. Cada ser é único e especial e carrega consigo uma forma igualmente única e especial de perceber o mundo, de interagir e comunicar com tudo ao seu redor. Se massificamos a oferta, massificamos a procura. Repetimos os padrões que nos colocaram neste colapso climático e não estamos mudando o paradigma para garantir o bem-estar coletivo.

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Aliás, de coletivo esse movimento não tem nada. Geralmente essas estratégias de vendas digitais são centradas em um especialista que se torna inalcançável, desejado e hiper-valorizado. O objetivo muitas vezes está voltado para a quantidade e não para a qualidade, para a escassez ao invés da abundância.

Precisamos perceber que, assim como na natureza, o que gera mais lucro é justamente a abundância. Um sistema abundante é próspero, biodiverso e coletivo por conta das trocas e relações entre seus membros. Estamos esquecendo que a grande solução sempre esteve na natureza e se chama: comunidade. É uma união de seres com intenção, organização e troca. Valorizando a bagagem e as individualidades presentes no todo, aprendendo a somar as diferenças e multiplicar as conquistas, dividindo as missões.

Aprendi com o trabalho da Izadora Barros (www.instagram.com/izadorabarros) que as comunidades estão em tudo – da onde viemos, como sobrevivemos, o que buscamos, para onde vamos. Segundo ela, a comunidade é um espaço acolhedor, físico ou digital, em que uma pessoa lidera outras pessoas com um propósito em comum, com a intenção de criar um espaço seguro, de conexão, capacitação e evolução contínua em coletivo por meio da cooperação.

Isso porque, sim, somos animais sociáveis e co-dependentes que, mesmo estando em comunidade o tempo todo, criamos um sistema que muitas vezes reforça submissão, desconfiança, a não participação, a escassez e competição.

É preciso buscar uma conexão maior e de mais qualidade com nosso público. Embora as redes sociais sejam boas ferramentas, ainda existem muitas barreiras para a construção de relacionamento e confiança. As redes sociais são apenas um instrumento, não são a estratégia e não são perfeitas. O próprio termo social, das mídias sociais, tem sido deixado de lado. Estamos socializando ou apenas tentando vender?

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As comunidades são a resposta para estimular a biodiversidade digital e para driblar tanto os problemas online de falta de engajamento, baixo alcance, publicidade super cara, poucas vendas e etc, mas também para os problemas do mundo material e os percalços socioambientais que enfrentamos como sociedade planetária. As comunidades trazem justamente o elo que nos tem feito falta ultimamente: sensação de pertencimento e colaboração.

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GRINSZTEJN, Camila. Comunidades Digitais: conectando pessoas e ideais através da biodiversidade digital. Autossustentável. Disponível em: <https://autossustentavel.com/2021/11/comunidades-digitais-conectando-pessoas-e-ideais-atraves-da-biodiversidade-digital.html>.